Era uma vez uma menina chamada Fran. Fran fez sexo. Transpirou, sorriu, chupou. Como boa cristã, ainda ofereceu a outra face – quer meu cuzinho, quer? Meu cuzinho apertadinho? Ele provavelmente quis. Deve ter se deleitado pelo lado B da moça. Se ela gozou? Isso eu não sei. Só sei que Fran fez sexo – algo que eu, inclusive, faço com bastante felicidade. Que você certamente já fez se tem pelo menos 18 aninhos. Que, lá na China, um bilhão fazem – como diria Chico Buarque. E que – pasme! – seus pais fizeram nove meses antes de você nascer. É, meu amigo. A verdade é dura. Muitas vezes, mais dura do que o pau sobre o qual se senta. Mas ela há de ser encarada. Sua mãe pode ser Maria – assim como a minha é –, mas ela não é virgem. Não é imaculada, não é donzela, não é santa. E olha, corre até o risco de ela já ter perguntado ao seu pai, gesticulando como se fizesse um ok com as mãos: quer meu cuzinho, quer? Meu cuzinho apertadinho?
Suposições e choques de realidade à parte, é com muito, mas muito pesar que escrevo este texto. Eu poderia estar tomando uma caipirinha de limão à beira-mar. Eu poderia estar descansando depois de ter comido uma bela duma feijoada com farinha e pimenta. Eu poderia estar assistindo à Sessão da Tarde. Ou poderia estar hidratando meus belos cabelos. Mas estou aqui pra repercutir o caso de Fran, a menina que fez sexo com um babaca. A menina que, do dia pra noite, teve sua vida destruída por um vídeo de treze segundos. A menina que, certamente, foi alvo de risadas de uns e de punhetas de outros. Ou a vadiazinha que queria aparecer, na linguagem do patriarcado.
Não me importa o tamanho da ingenuidade ou da safadeza de Fran. Não me importa se ela tem um filho de dois anos com outro cara. Não me importa se ela preferia anal ou uma gozada bem dada na cara. E não me importa se o brother com quem ela transou era amigo, amante, namorado, loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia ou capitão. A única coisa que importa nesse momento é que reflitamos e aceitemos a verdade: vivemos em uma sociedade hipócrita, violenta e machista. Porque achamos um absurdo ver a Fran pedindo uma gozada na boca, enquanto olhamos para o maltrapilho que pede esmolas como pura banalidade. Porque batemos palmas para o cara que pega várias – aê, garanhão! – enquanto difamamos a menina que transa com quem bem quiser – aê, piranha! Porque aceitamos calados, durante anos, a inversão de papéis que o machismo comumente promove – estava usando um decote até o umbigo, então pediu para ser estuprada.
Se deixou filmar, então pediu para ser publicamente exposta e hostilizada. Esse é o argumento de inúmeros dos infelizes que comentam o caso de Fran nas redes sociais. Como se o desvio de caráter estivesse em realizar um desejo muito comum entre parceiros sexuais, e não em desrespeitar o acordo tácito entre qualquer casal que faz sexo: a privacidade e a intimidade. Quando se está na cama – ou no carro, ou no chuveiro, ou no banheiro, ou na putaqueopariu – com alguém, o mínimo que se espera é liberdade para expor os próprios desejos e respeito com até a mais bizarra das fantasias. Porque sexo é cumplicidade. É sociedade. É eu entro com meu pau e você entra com a sua buceta. E se Fran pecou, foi por, talvez, ter entendido o real sentido da palavra sexo. Por isso, em vez de julgá-la, que tal ir cuidar do seu próprio prazer? Acredite em mim: uma gozada pode operar milagres. E dia desses eu li naquele livro sagrado que os homens tanto veneram que, sim, Deus ama quem dá com alegria.