• Casal Recomenda:  A Insustentável Leveza do Ser
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    A Insustentável Leveza do Ser


    Difícil encontrar um livro daqueles que marcam a vida. Daqueles que te trazem respostas. Que te fazem repensar nossa existência.

    Como que por um acaso – como bem mencionou Kundera- me deparei com o filme “A insustentável leveza do ser” em uma dessas listas de filmes de algum site qualquer. O assisti de uma forma, que as quase três horas de filme, perderam a noção de tempo. Descobri depois, que o filme se tratava da adaptação de um livro de Milan Kundera, com o mesmo nome em português. E assim como o filme, passei um dia inteiro das minhas férias o lendo, sem sentir o peso que poderia ter tido.

    O livro em forma de romance, na verdade foi uma forma que Kundera encontrou para discutir a relação peso/leveza existente na nossa vida, na dualidade de cada ser. A partir dai, Kundera constrói cinco personagens deliciosos: Tomas, um médico que vive a vida levado por uma leveza extrema, e que é apaixonado pelo prazer de sair com mulheres e descobrir os pequenos detalhes que as fazem únicas. Ele se casa com Tereza, uma menina simples do interior, mas que foi a única capaz de despertar nele algo que nunca havia sentido. Tereza sofre pois nao consegue ser “leve” como Tomas, ao contrario, é fraca e muito sensível. O outro casal da história é formado por Sabina e Franz – que se misturam nos traços de personalidade de Tomas e Tereza: a força e leveza de Tomas se repetem em Sabina e certas fraquezas e Tereza se repetem em Franz. Além deles, há Karenin, uma cachorrinha que os acompanha por anos, e que é também o mais verdadeiro exemplo de leveza/pureza que se pode imaginar.

    Diante de uma obra tão única, resolvi escrever esse post. Meu objetivo não é mostrar conclusões ou respostas, já que essas precisam de mais reflexões e discussões do que caberiam aqui. Mas quero dividir com vocês alguns trechos do livro e algumas partes que me marcaram. E se vocês se sentirem tocados como eu,  leiam a história completa, para que possam tiram também suas conclusões:

    –        Transar com uma pessoa e dormir com ela, são coisas muito diferentes. O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de pessoas), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só pessoa). Algumas pessoas com quem dormimos nos permitem viver isso. Dormir com alguém ao lado pode ser uma experiência muito mais profunda do que sexo em si. Mas não é uma experiência que se pode ter com qualquer um.

    –        O que faz nos apaixonarmos por uma pessoa, e não por outra, visto que há diversas pessoas que admiramos ao longo da vida? Segundo Kundera, podemos encontrar pessoas das quais gostamos, apreciamos o caráter, inteligência, que estamos prontos para ajudar quando preciso. Mas existe no cérebro uma zona específica, que poderíamos chamar de “memória poética” que registra o que nos encantou, o que nos comoveu, o que dá beleza a nossa vida. Assim que alguém ocupa essa nossa memória poética, varremos todos os traços de outras pessoas. Só existe lugar para uma pessoa por vez.

    – Os “caçadores de mulheres” (chamados “mulherengos”), podem ser divididos em duas categorias:

    a-) Os líricos: procuram a si próprio nas mulheres, procuram o seu ideal e se frustram constantemente, já que é impossível encontrar a perfeição.

    b-) Os épicos: Aqueles que não buscam um ideal, mas que tem sede de novos conhecimentos, e acabam se tornando colecionadores de curiosidades. Essas pessoas tem um desejo de descobrir o que há de imaginável, o que torna as pessoas únicas.

    – O drama de uma vida pode ser explicado pela metáfora do peso. Dizemos que temos um fardo sobre os ombros. Algumas pessoas aceitam carregá-lo, outras não. Essa é a verdadeira insustentável leveza do ser.

    – É impossível sermos verdadeiros vivendo em público. Só conseguiríamos viver dentro da verdade, se estivéssemos sozinhos. Se há qualquer pessoa junto, nos adaptamos de um jeito ou de outro aos olhos dos que nos observam.

    – Há pessoas que vivem de uma forma leve, outras que não suportam esse modo de vida. Um não é melhor que o outro, já que os dois podem trazer sofrimento.

    – Somos forçados a nos portarmos de uma certa forma para sermos aceitos na sociedade. Em tudo, com a família, amigos, nos relacionamentos. Como falou Kundera, “nunca poderemos saber com certeza total em que medida nosso relacionamento com o outro é o resultado de nossos sentimentos, de nosso amor, de nosso não-amor, de nosso ódio. […] A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda pureza, em relação aqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa a nosso olhar), são as relações com aqueles que estão a nossa mercê: os animais.” (Kundera, p. 292)

    Alem de todas as reflexões que coloca, a história é de uma sensualidade  que falta muito nas obras de hoje – Kundera consegue instigar através das cenas mais improváveis, o que também acontece no filme.

    Se gostou, aí vão alguns links de onde encontrar:

    –        Livraria Cultura: http://bit.ly/iecqos

    –        Estante Virtual (comprei o meu por aqui): http://bit.ly/eSwK2z

    –        Fnac: http://bit.ly/ewKlxv


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