Tem pessoas que se amarram mais à dor, do que ao amor. Já vi inúmeros casos de gente que se prende a esse sentimento – segura, aperta, não deixa ir. Relacionamentos estranhos esses, masoquistas ao extremo. Parece haver um conforto nisso, parece ser um porto seguro de onde as pessoas não têm coragem de sair. E o pior de tudo é que não há nada que possamos fazer, já que a decisão de seguir em frente é única e exclusiva do outro.
Ou Vai ou Racha
Não existe relacionamento bom de verdade sem entrega. Relacionamentos vividos cheios de dedos, recheados de atitudes pensadas, com fobia de passos em falso, acabam sendo sempre limitados e rasos. Não é possível amar cheio de dedos. O amor não aceita essa condição, não há acordos, cláusulas extras no contrato – amor é tudo ou nada. Nada na vida é perfeito. O amor com entrega nos leva às alturas – e, já estamos cansados de saber que, quanto maior a altura, mais longa a queda. Não dá pra ter tudo.
Mesmo conscientes da dor que geralmente surge no fim da estrada, escolhemos arriscar. E o fazemos porque sabemos que de nada vale a vida se não a vivermos com emoção. Não amar por medo de se decepcionar, é como rejeitar a sobremesa por medo de engordar. Ou como entrar no mar e não molhar o cabelo por medo de estragar a escova. O medo nos freia, nos limita. Uma das lições que deveria ser passada de pai pra filho, ou que deveria ser ensinada na escola (no lugar de logarítmos) é a seguinte: Ame profundamente, esteja preparado para a dor e, quando ela chegar, desapegue-se. Muitos podem dizer que essa tarefa é difícil demais, que não é possível desapegar-se assim. Pois eu não concordo. Ninguém disse que é fácil – estamos dizendo apenas que é necessário.
MOVE!
A vida não é fácil pra ninguém. Vivemos constantemente nos decepcionando, errando, nos arrependendo, levando tombos. Já imaginou se cada vez que levássemos um tombo, nos recusássemos a levantar? Pois as pessoas que se agarram à dor fazem justamente isso. Elas vão muito além de curtir uma fossa – elas querem mais: precisam chorar ouvindo qualquer música no rádio, cultivam a sensação de se sentirem vítimas, acham que com elas foi diferente – viviam um amor muito profundo, muito intenso, muito gostoso para se despedirem dele assim. E, dessa forma, se agarram à dor, rastejam, sofrem. Não olham para seu sofrimento como se fosse algo que faz mal, que precisa ser enterrado.
Todo mundo sabe que um pé na bunda ou o fim inesperado de um relacionamento dói. Dói e dói muito. Faz ferida. Você se sente como o último ser da terra, não quer sair de casa, não quer tomar banho, não quer ouvir o despertador – mas faz um bem danado depois que passa. Se você já viveu uma situação assim, provavelmente está se lembrando de como foi ruim. Aliás, deve estar pensando também em como algo que pareceu tão pesado na época, hoje já não existe mais – não faz nem cócegas no coração. E aí entendemos que precisamos nos forçar a seguir adiante, simplesmente porque, como já dizia Quintana: “o pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”. Ou seja, se você não se forçar a levantar da cama, a dirigir pro trabalho, a comer, a escovar os dentes, ninguém vai fazer isso por você. E, quanto mais você se força, mais percebe que o peso da rotina vai ficando menor a cada dia. De repente, o bar sem ele já não parece mais tão chato assim. E a cama já não parece mais tão vazia sem ela. Isso acontece por questão de sobrevivência – na natureza, não há lugar para fracos. É preciso erguer a cabeça e continuar andando.
Por isso, as pessoas que refletem, logo percebem que não dá pra passar a vida sofrendo por alguém. Não dá pra obrigar ninguém a querer ficar com a gente, não dá pra passar borracha no que já foi. A vida é curta demais, rápida demais e frágil demais. Não dá pra arriscar gastar a nossa existência chorando pitangas por alguém. O mestre Cazuza mesmo, já entendia isso muito bem quando disse: “Fique livre do mundo, aproveite a dor, ame de olhos fechados e se divirta na Terra.”