por Douglas Tedesco
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Ai ai, um suspiro antes de qualquer coisa, porque o que temos a seguir não é fácil de encarar. Hoje apresento esta filial do circo dos horrores e um molho de humor por cima de tudo, afinal a vida já é tão séria e estas coisas já são tão escabrosas (que palavra horrível, não consegui pensar em outra coisa), que se não tratarmos com leveza, rindo na cara da idiotice e apontando ela pra todo mundo, pode virar um monstro maior do que a falta mundial de absorventes e depiladores.
Pra contar de uma forma geral como os homens crescem e como se forma neles a sexualidade (a putaria pra ser mais exato, muito prazer) temos um personagem que vai crescer e caminhar conosco, ou ao ladinho mais atrás se sentirmos muita vergonha dele. O tal chama-se Adão Roberto Soares, mas para evitar as piadas bíblicas ele sempre se apresentava como Roberto.
Roberto nasceu em uma família de classe média no começo da década de oitenta: mascou chicletes PLOC, comeu chocolate Surpresa com a figurinha dos dinossauros, já enfiou uma tampa de caneta BIC inteira no nariz, colocou um O.B. embaixo d’agua pra ver inchar, roubou a playboy da Luciana Vendramini de seu irmão, viu Fátima Bernardes entrar para o Jornal Nacional, e agora a viu sair também. Comeu aqueles guarda chuvas de chocolate com gosto de gordura, nunca conseguiu resolver um cubo mágico, e acreditem: ele viu, já grande, o cenário do Xuxa Park pegar fogo e ficou preocupado em as chamas atingirem a nave da rainha e ela não poder voltar para casa (sem comentários por favor). Dançou na sala de estar Queen, Roxette, Cyndi Lauper e Madonna, com direito a coreografia e expressões idênticas. Sua mãe tinha medo dele se afeiçoar muito a Fred Mercury, especialmente em “ I want to break free ”, mas o menino pegou a enceradeira para representar o clipe, apenas uma vez na vida.
Já com meses de vida, como todo bebe, seu pintinho endurecia em cada troca de fralda, e sua avó quando podia acompanhar fazia questão de beijar o membro da criança e fazer aquelas caras que só avó sabem, até o dia em que obviamente ele fiz xixi em sua boca. Depois já com alguns anos tomava banho com irmã e priminhas naqueles boxes com ralo cheio de cabelo e shampoos Darling rosa. Discutiam a ausência e falta de coisas nos corpos. A mãe explicou, mas iguala cara dela, cheia de pudores e metáforas. Brincou de médico, mas sempre era o recepcionista que cuidava pra ver se nenhum adulto chegava perto. Também pequenino teve aquela clássica cena de ver os pais num vai e vem constrangedor, e pegou o irmão mais velho se masturbando no quarto, e conseguiu encontrar as revistinhas Private que ele guardava. Descobriu então que aquela surpresinha de Kinder ovo entre as pernas podia ser enfiada em buracos, “qualquer buraco”. Frutas e brinquedos confortáveis se apavoravam quando Adão Roberto chegava: mais uma vítima do jovem pinguelinho desbravador.
No auge de seus 12 anos, já experiente depois de tanto trepar com uma réplica de pelúcia da Smurffet, a qual lhe acompanharia durante anos nos passatempos sexuais, descobriu que se tocar era o canal. E na escola todos conversavam em rodinhas e o negócio não era mais a guerra dos sexos declarada odiando as meninas, mas namorar com elas, ganhar uns beijos, e pra isso existia a brincadeira de “verdade ou consequência”, ou a porcaria do “salada mista”. Foi nesta época que andava de pau duro pra todo lado, achava bonito, chegava a ficar só de shortes, sem cueca, parecendo uma árvore de natal ambulante: o galho e as bolas penduradas, até que a mangueira do jardim comeu nas costas dele. Neste mesmo dia da mangueira, não a dele, mas do jardim, assistiu a um episódio de She rá, e se excitou com a heroína lutando loucamente sem ficar podre de cecê, foi ao banheiro e magicamente se masturbou e ejaculou pela primeira vez. Pensou que fosse Tenaz, mas já tinha visto isso antes nas revistinhas do irmão.
Agora sim, se sentia um homem: independente, corpo feito, realizado, na mais alta etapa da sexualidade, completo. Cheio de si colocou na cabeça, a de cima e não a de baixo, que precisava fazer isto com garotas agora, e a oportunidade era o baile da primavera (eu nunca vi um conhecido dizer que já teve uma merda destas no colégio, mas o Adão Roberto teve), e estava preparado pra pegar todas. Escolheu a melhor camisa xadrez, e gastou muitos potes de gel. O pai o levou, e lá encontrou os amigos da turma de sala, também dispostos a apavorar o ginásio com toda sua “gostosialidade” no ápice.
Adão Roberto não perdeu a primeira oportunidade, uma menina formanda do terceiro ano passou por ele. Estufou o peito, limpou os dentes com a língua e disse pra ela: “ O que esse bombom está fazendo fora da caixa? ”. O silêncio infernal e pra sempre de 3 segundos, a tensão, a virada de corpo no vestidinho plissado e a resposta: “ Se enxerga garoto, você é um inferno! ” Não contavam com a astúcia do pequeno voraz pegador de ursos de pelúcia, e ele respondeu: “ Então vem pro meu inferno, chuchu! ” E as vaias dos amigos se transformaram em gritos de comemoração, aquele orgulho de quando a gente consegue piorar alguma merda falada. A garota se surpreendeu mais ainda, e em silêncio aproximou-se e deu um beijo no rosto de Adão Roberto, fez uma cara de “ Nunca-never-atéparece-deusmelivre ” ,continuou seu caminho, e não foi mais vista o resto da noite. Adão Roberto ficou extasiado pelo contato, e não conseguiu mais pensar: se apaixonara pela beijoqueira do inferno, e quando chegou em casa teve de descarregar seu êxtase, o que significa que a Smurffet de pelúcia sofreu até descosturar as pernas.