• As Pequenas Coisas Doem Mais
  • As Pequenas Coisas Doem Mais


    Depois de anos, a gota d’água. E a separação chegou por causa daquela maldita mania dele de mastigar numa altura ensurdecedora. Ou quem sabe pelo irritante costume dela de chamar de baranga qualquer uma das amigas dele (com foco nas loiras altas). Talvez a falta de espaço para o novo ou um copo sujo descansando na pia durante dias podem também ter dado o tiro de misericórdia na relação.

    Cada um para o seu lado e com a teoria batida de que “não foi culpa de ninguém”.  Oras, se a  culpa foi das pequenas coisas, é a falta delas que vai chicotear suas costas nas primeiras 24 horas de solteirice. Depois de uns dias, elas apenas estapeiam a sua cara.

    As coisas pequenas são as que mais machucam quando um relacionamento chega ao fim por esgotamento de possibilidades. Mesmo que você não suportasse aquelas botinas desgraçadamente feias que ele insistia em usar, são elas que você, sozinha, vai abraçar aos prantos com uma saudade desconhecida até então.

    Aquele batom Snob dela, que você dizia ser maquiagem de palhaço, vai olhar pra você com sarcasmo, projetando numa tela imaginária todos os sorrisos da sua ex naquela época em que eram felizes. E aí você chora igual criança, enquanto seu irracional deseja ardentemente aquela boca lilás novamente entre seus lábios.

    O caminho pra casa dele que você percorreu durante tanto tempo, a senha do cartão de crédito dela, o dedo torto no pé, a gargalhada quando você contava as piadas mais horríveis do universo.  A buzina, o cheiro, o livro, as migalhas que sobraram espetam cada célula sua sem dó nenhuma, tentando fazer você entender que [suspiro] acabou mesmo.

    A falta da outra pessoa às vezes não é tão grande quanto o vazio deixado por essas coisinhas. Nas primeiras horas depois do adeus, é insuportável o desespero causado pela falta dos minúsculos pedaços da vida alheia. Mas a decisão foi tomada. Anos de relacionamento se definem agora em lembranças insignificantes para o resto do mundo.

    E é engraçado como os amigos têm um discurso default pra nos consolar nessas horas: “Você vai esquecer”.  Os outros ficam doidos pra arrancar da gente essas coisas pequenas que machucam como se fossem imensas.  Como se aquelas botinas horrorosas não tivessem seu fundinho de beleza. Como se elas não tivessem ajudado a construir o que somos hoje.

    Para fins de direito autoral, a imagem usada no post não é de minha autoria e o autor não foi identificado.

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