Todo relacionamento que se preze é iniciado por uma vontade e uma ação posterior. Amor, atração física, carinho, admiração ou qualquer sentimento inicial tende a ser o motivador do início de um relacionamento e uma das bases na qual ele se sustenta. Além disso, a disponibilidade afetiva, tempo livre, sorte e outros fatores também são necessários para que “o milagre” de um relacionamento bom e espontâneo aconteça. Por outro lado, existe uma vertente de relacionamentos que são iniciados por puro e único comodismo. Ou conveniência, se preferir. É quando aparece um relacionamento baseado muito menos em algum sentimento ou situação mais ampla que a carência ou a vontade de não de ficar sozinho.
Os relacionamentos-mochila são aqueles em que uma das partes (ou ambas) estabelece uma relação sem muita base sentimental ou física. O sexo é bom, ele gosta de comédias românticas, ela não fica ligando toda hora: por que não? São pessoas que se desprendem cada vez mais de relações com sentido, seja por cansaço, por decepções passadas, pela falta de paciência com essa coisa de amor e blá blá blá ou pelo incômodo da falta de companhia. É uma forma prática e confortável de carregar as vontades e desejos mais imediatos (e um tanto quanto mesquinhos, talvez). São duas pessoas dispostas a encarar uma relação sem muita base e carregar o outro nas costas como forma de não se sentir sozinho.
Muitas vezes, um relacionamento-mochila tem origem naquele sentimento de posse que a gente bem conhece. Eles não são apaixonados pela pessoa, mas essa coisa de querer ter é mais forte que qualquer teoria sobre o que é certo ou errado entre duas pessoas. E existem também casos de gente que se envolve numa dessas por não ter tempo nem cabeça para encarar um “relacionamento de verdade”. Daí eles pegam uma mochila, colocam as razões pela qual resolveram entrar nessa situação e as fecham. É fácil andar por aí com uma mochila. Eles nem percebem que estão carregando quando as alças são do seu tamanho e o peso dela não interfere em nada da sua postura ou no seu dia-a-dia. É quase como se eles não estivessem numa relação.
Mas fazer o que se no final nós somos seres humanos sedentos por algo que cure aquela eterna insatisfação com a vida e com o outro? O que eles não previam é que, no meio de tudo, o desejo de ter mais do outro e de suprir uma carência emocional existente (que vai de mínima até o ponto máximo) acaba por colocar mais pesos na mochila do outro. Cobranças silenciosas, vontade de querer mais do que simples afeto ou respeito e o desgaste de não poder contar com isso acabam colocando mais peso na mochila. E agora o que parecia prático e confortável começa a incomodar e a atrapalhar o cotidiano. Não há base que os sustente além das alças. Não existe força motriz poderosa o bastante para fazer com que o desgaste seja superado e que aquela vontade inicial lá do início do texto volte a ser o motivo claro que os fez estabelecer a relação.
Pra não ser pessimista demais e falar a verdade, pode ser que o fato de se arriscar num relacionamento-mochila venha a trazer alguma coisa de bom. Se tiverem sorte, eles podem acabar se encantando com o outro no meio do caminho e deixando as mochilas de lado pra carregar nas mãos alguma coisa que dê base a eles. Pode ser que se aventurem e ganhem alguma experiência legal ou importante o suficiente para mostrar que valeu a pena entrar numa dessas. Pode ser que, de dentro da mochila, saiam motivos e tijolos para construir uma história que valha a pena.
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