Uma gozada e nada mais. O encontro de dois corpos foi movido apenas pelo tesão e agora, depois dessa chuva de espermatozóides e sinfonia de gemidos não há mais nada a ser feito ou dito, não existe assunto, afinidade, vontade de trocar carinho ou qualquer coisa que possa ser chamada de laço. Pior, nessa hora você geralmente está num motel longe de casa, com uma pessoa que insiste em deitar no teu peito e te acariciar como se você fosse um filhote de Labrador, enquanto o que você mais deseja é fugir pra casa, comer algo e dormir tranquilo.
Nesse instante até mesmo um Bad Boy estilo Frota entra em um imenso conflito em busca de uma solução para livrar-se rápido daquele peso que insiste em olhar fixamente com olhos acarneirados e testar todos os botões do motel, provavelmente na procura de algo a fazer para esquivar-se do climão que reina no ar. Para fugir desse incômodo algumas pessoas até inventam óbitos repentinos no meio da noite, programam ligações fantasmas e até seriam capazes de provocar um incêndio só pra deixar a suíte às pressas.
Já ouvi muitos relatos bizarros sobre o tema, desde pessoas que chegaram a torcer para o quarto ser invadido por abelhas africanas para fugir de uma conchicha sufocante até homens que chamam esse tipo de parceira de “Mulheres Temakis / Pizza”, pois depois do ato finalizado adorariam que subitamente essa matadora de tesão se transformasse em algo para matar também a fome, eliminando dois coelhos numa cajadada só e poupando de um ridículo diálogo do tipo:
– Você tá ouvindo esse barulho?
– Qual?
– Presta atenção, lá fora…
– Relaxa, devem ser os gemidos do quarto ao lado.
– Não, acho que esse motel não é seguro, ouvi dizer que foi construído sobre um antigo cemitério indígena, vamos embora agora.
Sim, é verdade que muitas vezes o homem pensa com a cabeça do pau e depois, quando o sangue volta ao cérebro, nasce o arrependimento e a vontade de colocar as roupas logo, sem se importar de sair do motel com a braguilha aberta e a camiseta do avesso. Mas esse fenômeno também acomete as mulheres que ficam torcendo para que aquele ser do seu lado se transforme em um par de sapatos ou em uma bolsa Louis Vuitton depois do sexo.
Esse fenômeno acontece provavelmente porque as pessoas ainda têm uma grande dificuldade em separar sexo de amor – existe um grande tabu acerca do desejo por prazer sem compromisso, principalmente quando se trata das mulheres. Reina um preconceito com quem assume que não quer fazer amor – quer fazer sexo. E ponto. É claro que na maioria das vezes sexo com intimidade é muito melhor, mas as pessoas precisam ter o direito de escolher como e com quem querem transar. Seria muito mais fácil se todo mundo pudesse ter a liberdade de dizer que só está em busca de sexo, sem ficar com a sensação que o outro vai te ver apenas como um objeto por isso. A verdade pode até doer, mas evita situações constrangedoras como estar do lado de alguém que desejaria que você se transformasse numa pizza. E aí, os diálogos seriam assim, muito mais sinceros e diretos:
– Vamos sim pra um lugar mais tranquilo, mas eu só quero transar, ok?
– Sem problemas. Hoje eu também dispenso o cafuné.
Seria lindo.
É claro que para esse alinhamento ser possível, é preciso encontrar alguém com os mesmos interesses que os seus. Pode ser um pouco mais difícil de achar, mas pelo menos irá transar com a consciência limpa por ter sido sincero e sem o peso de não saber o que fazer com aquela pessoa estranha do seu lado depois de gozar. A partir do momento em que se é honesto com o outro, ninguém está usando ninguém como um mero objeto – estão apenas aproveitando os desejos em comum para fazer uma das melhores coisas da vida. Sem óbitos repentinos no meio da noite.