Eu te resgato no bar, antes do sol amanhecer, quando seus olhos já estão bem espremidinhos e a boca fala com preguiça. Eu te arrasto pra casa, fedemos a alegria que só o exagero alcoólico promete. Ziguezagueamos pela calçada com destino ao meu apartamento. A garoa aperta e eu só me lembrarei dela no dia seguinte, ao flagrar a poça que se formou debaixo do guarda-chuva. Também só me lembrarei de que esqueci a chave pra fora, quando você for embora para quem sabe voltar, caso nossos horários livres coincidam uma noite dessas.
A gente até que conversa, mas confesso que o álcool rouba a minha memória, me incapacitando de afirmar que gosto do que você diz. Ao menos nunca brigamos quando as pautas esquentam.
Você odeia me beijar no sofá e sempre pergunta quando vou decorar a janela com cortinas. Isso não é da sua conta, então desfaço o tema e te atraio pro quarto, onde as persianas fazem um trabalho competente.
A madrugada passa aos sussurros.
Quando um filete de sol já mancha a parede, você se afasta da minha cama e se despede com sono e, embora eu tenha a mania de te enquadrar pelo olho-mágico, só pra saber como você é quando não somos, prefiro quando você me deixa em branco. Gosto do silêncio que fica depois que você bate a porta. Há parcerias que se esgotam no quarto.
O gosto do café que tomo no meio da tarde é cortado por uma lembrança sua. Eu posso até te ligar, mas troco a ideia por alguma amiga com quem não vou ao cinema há muito tempo. Eu te esqueceria até por um uma brisa que coreografa o meu cabelo, me impedindo um visual impecável, como aquele que eu tinha antes de sair de casa pro trabalho.
Longe dos afagos noturnos, nosso papo é truncado. Você me responde o que não perguntei e me repreende por algo que leu em mim. Não é maldade. Não é sufoco, nem preguiça da sua voz. É que. Aceitemos: você não é pras minhas tardes.