Mal o inverno chegou e já foi decretada a temporada oficial de casais fazerem fondeu – para o desespero dos solteiros aflitos. É que no frio não há nada mais agradável que um cobertor no aconchego do sofá com um filminho no DVD, uma taça de vinho pra te esquentar e um par de pés – mesmo que gelados – pra encontra com os seus embaixo do edredom. Aliás, não existe melhor cobertor que aquele acompanhado por uma conchinha acolhedora. E é exatamente por esse clima de romance que o inverno traz que, nessas últimas semanas, parece que multiplicaram as reclamações de amigas que sonham em encontrar seu par – ou pelo menos um namorado de inverno. É claro que não há coisa mais natural que querer achar um parceiro, mas às vezes essa busca perde o foco: precisa-se mais deixar de ser solteira que encontrar um amor. Precisa-se de um namorado (e ponto).
Vivemos uma época em que tememos a solidão. A condição de estar só virou o “mal” do século XXI, o bicho papão do nosso tempo. Numa era em que a cada segundo uma nova tecnologia é inventada para encurtar distâncias e – teoricamente – aproximar as pessoas, o que não vale é se sentir esquecido. E então, quando bate a solidão, ela vem acompanhada do desespero. Desespero de se sentir só num mundo sem ninguém que se importe com você. Isso explica, em alguns casos, porque surge a necessidade urgente de namorar, casar, ter filhos. Não sabemos como lidar e não suportamos esse estado que, na verdade, é inerente à nossa natureza.
Esse temor de ficar sozinho desenvolveu até aquele tipo de pessoa que sempre está namorando. Não consegue ficar sozinha, talvez por medo ou insegurança, confunda sentimentos em troca de ter alguém ao seu lado. Termina um relacionamento e já engata em outro, não dá nem tempo de curar as cicatrizes do último amor, de se preparar pra respirar fundo outra vez, e ela já muda o status de relacionamento do facebook num piscar de olhos. Quem age assim, diante dos olhos alheios, é visto apenas como namoradeiro, alguém que gosta de estar numa relação amorosa. Mas não é bem isso o que acontece com quem opta por estar solteiro. Sempre tem alguém pra perguntar quando você vai desencalhar, as reuniões de família são uma desculpa para saber se houve algum update no seu campo afetivo e nas festas de casamento seu lugar é ao lado das mesas das crianças. Sem contar que com o passar do tempo a pressão só aumenta. É impossível não olhar ao redor e não sentir os comentários do tipo: “Ela nunca fica com ninguém, nunca namora ninguém, será que há algum problema com ela?”.
Parece que é impossível ser feliz sem uma metade pra te completar. Mas o que os outros esquecem é que antes de tudo vem o amor próprio, e é por isso que temos que amar também a nossa solidão. Podemos sim ter namorados, maridos e filhos, mas é bom nos lembrarmos de que sempre estamos sozinhas. É preciso muito discernimento para não confundir amor com carência, é preciso muita coragem para não se afundar num poço de dependência emocional. É preciso estar atento para encontrar pessoas que combinem conosco, nos compreendam e, acima de tudo, acolham a nossa solidão, para aí partilhar a solidão um com o outro. Caso contrário, se eu fosse você, ouviria a minha avó que sempre me dizia o ditado batido mas sincero de que: “antes só do que mal acompanhado”.