Quem inventou a expressão que quando os homens crescem a única coisa que muda são os tamanhos dos brinquedos, sabia das coisas. Porque a gente não cansa de ver homem barbado tendo uns flashbacks de infância. Video game causa muito isso. Paixões clássicas como futebol ou carro novo também. Eis que, de repente, aquele homem feito se transforma em criança diante dos nossos olhos.
As mulheres são diferentes.
Dificilmente a gente vê uma delas se transformando em menina de novo diante da prateleira de Barbies na loja de brinquedo. Mas, em compensação, o que muito se vê nas mulheres é a velha mania de querer bancar segunda-mãe. Não sei se é o forte instinto materno saindo pelos poros delas, mesmo das que decidiram por quaisquer razões que não querem ter filhos. O racional sabe disso mas, de dentro, vem aquela força estranha que deixa muita mulher na paranóia de controlar o homem que está do seu lado.
Controlar, não – cuidar, muitas delas diriam.
Ao meu ver, elas são coisas bem diferentes.
Cuidar é ver que o outro está trabalhando com frio, porque na correria nem conseguiu parar para vestir uma blusa, e levar um casaco e colocar nas costas dele. O que é muito diferente de mulheres que, por algum tipo de surto, soltam um imperativo: “Coloca essa blusa!”
Cuidar é oferecer o apoio na testa e um banho naqueles dias da vida em que toma-se um porre. Afinal, quem nunca viveu isso? Dar uma de mãe é ajudar dando uma bronquinha de leve e se achar no direito de, dali pra frente, querer controlar o que o outro bebe ou deixa de beber.
Cuidar é passar a dica daquele cabeleireiro ótimo que você vai e que nunca precisa marcar com antecedência. Dar uma de mãe é ficar no pé falando que ele precisa cortar o cabelo até que ele finalmente vença pelo cansaço.
E os exemplos são muitos. Tem mulheres que, no entanto, não enxergam essa linha tênue. Por algum motivo, elas agem que nem viciado tentando parar: não admitem o vício. Elas tentarão de todo jeito te convencer que estão apenas cuidando, que só querem o bem mas, assim que você começar a acreditar, elas acham uma brecha pra te convencer a usar a camisa azul, em vez da branca que você tinha escolhido. E, então, vale tudo desde sugerir com voz meiga até inventar os argumentos mais malucos para que você, cansado das sugestões impostas, finalmente pense que não vai fazer tanta diferença trocar a branca pela azul mesmo. Whatever.
Assim como nossos pais que, por melhores que sejam tentam nos moldar para que, de alguma forma, nos tornemos pessoas melhores de acordo com o ponto de vista deles, as mulheres com síndrome de segunda-mãe escondem um profundo desejo de mudar o outro. O posto de namorada ou esposa costuma trazer-lhes uma ilusão errada de que elas, de repente, passaram a pertencer o outro e, portanto, têm direito de opinar sobre questões que não lhes é de direito, como a decisão de ir ou não para a academia, de quando lavar o carro ou de quando fazer faxina no guarda-roupas.
Mas, tiremos a capa de vilãs dessas mulheres. Elas jamais teriam espaço para tanto controle se suas vítimas não concordasse com isso. Muito homem detesta assumir, mas adora ter uma mulher mandona ao lado. Todo dia quando ele volta para os braços da dita cuja, está mais uma vez, renovando a sua escolha de ser controlado. Porque não existe aliança ou contrato no mundo que segure um relacionamento quando um dos dois não quer. É o chamado encaixe de neuroses – um ser procura no outro alguém com quem possa equilibrar suas falhas, como o homem que não consegue se relacionar com uma mulher sem assumir, de alguma forma, papel de filho. Para esse tipo de casal, fica a dica: amor e egoísmo é um paradoxo que não combina. É uma combinação muito mais trágica do que a camisa estampada com a calça verde que você insistiu que ele tirasse pra ir na festa.