“O Cara” realmente merecia ser chamado assim, pois foi campeão brasileiro da modalidade quase olímpica denominada cafajestagem esportiva. Ele sempre treinou duro e sem perder a pose, defendeu o cinturão macho-alfa nas categorias: degustação de calcinhas (comestíveis ou não), remoção de sutiãs construídos pela NASA e, claro, hipnose quântica de clitóris tímidos.
Sem pestanejar, ele ousou correr os riscos implícitos nas camadas mais impúdicas da noite, sentou sem ser chamado e foi bem aceito em mesas de bar repletas de coxas pecadoras e lábios, vaginais, claro. “O Cara” desafiou as regras românticas da boemia e gritou pelos quatro cantos do mundo que o amor é apenas uma invenção criada pelo ser humano amedrontado, um placebo funcional contra o vazio assustador que é estar só em meio a um bocado de nada. Ele brindava o hedonismo a cada copo de uísque, sem gelo, como manda o figurino do cowboy contemporâneo.
“O Cara” carregava mistério ao quadrado, sugava mulheres inteiras apenas com o buraco negro da íris, não piscava, mas nunca, por nada nesse mundo, deixava que alguma presa penetrasse-lhe inteiramente pelos olhos, pois conhecia o risco de lá no fundo, alguém perceber algum resquício humano de insegurança. Ele sabia que cedo ou tarde alguma sereia lhe arrastaria inteiro para o fundo de oceanos nos quais ele certamente não saberia como nadar.
Eis que, numa noite fria, arriscou sentar-se com ela, uma ilustre desconhecida. Decidiu chegar mais perto e daquele momento em diante, não havia mais distância segura entre aquelas bocas, famintas e visivelmente salivantes. Os lábios se comeram como se um meteoro do tamanho da lua fosse atingir a Terra no dia seguinte e, naquela madrugada, ele deu o primeiro sinal de apocalipse, quebrando as antigas regras de conduta pessoal – dormiu de conchinha, encaixou-se sem pavor e estranhamente gostou daquele enrosco. Fez cafuné sem obrigação de fazê-lo.
Dali em diante, rompeu vários mandamentos que provavelmente o expulsariam por justa causa do clube dos cafajestes. Aceitou uma viagem romântica, comeu Fondue antes da foda e sentiu um ciúme incontrolável pela primeira vez na vida. Sem saber como agir, entrou na decadência dos dedos incontroláveis, cuspindo SMS como se fosse uma metralhadora automática, escrevia: “Bom Dia”, “Boa Tarde”, “Boa Noite”, “Boa Madrugada”, era bom em demasia e errou, ao achar que assim a manteria por perto. Tornou-se previsível, via de uma só mão com muito dedo e pouco tapa.
“O Cara” deixou de ser espontâneo e virava outro homem quando estava perto dela – encolhia-se beirando a timidez, sempre com pavor de criar tempestades ou discussões que pudessem abalar a junção dos dois. Com medo de perdê-la, criou uma chuva de atitudes sufocantes para tentar evitar esse temido hiato e por fim, acabou vítima de uma metamorfose comum: “O Cara” que era único em meio à multidão, individual e seguro de si, transformou-se em mais um, num qualquer medroso e tristemente mimetizou-se ao lado de tantos outros caras, bichos comuns. Confundiu-se com qualquer clichê, evaporou. Ao perder o artigo que o diferenciava de tantos homens, perdeu também aquela mulher especial, que desistiu de amá-lo quando passou a prevê-lo, quando percebeu que nenhuma surpresa sairia daquela boca cheia de filtros.
Por isso, não importa se você é cafajeste, macho alfa ou apenas você, mas precisa saber de uma coisa muito importante e atemporal sobre as mulheres: elas odeiam insegurança. Na pré-história os machos demonstravam segurança caçando mamutes com pedaços de pau, hoje, ficou bem mais fácil. Ser seguro é confiar no seu próprio pedaço de pau e jamais, por nada nesse universo, mudar quando estiver diante de sua fêmea. Só assim é possível fazer diferença. E, efetivamente, se tornar “o cara” da vida de alguma mulher.