• Gay Friend – Amizade Super Colorida
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    Existe amizade verdadeira entre homem e mulher? Por mais passional e até infantil que essa dúvida possa parecer, não é de hoje que ela habita o imaginário de adolescentes e marmanjos de ambos os sexos – na maioria das vezes, tomados por uma certa insegurança ou por um ciuminho bobo. Ouso arriscar que até você, caro leitor, já cultivou uma pulguinha atrás da orelha ou perdeu pelo menos alguns minutos de sono preocupado com essa pergunta que não quer calar – afinal, hoje em dia a possibilidade de ser corno assusta mais do que a iminência da morte. Para mim, a resposta sempre foi óbvia: sim, existe amizade verdadeira entre homem e mulher. E eu posso provar. Não, não é excesso de segurança. Eu não faço ideia de como o meu namorado se comportou quando saiu a sós com a melhor amiga dele. Também não sei se ela tirou uma casquinha dele naquele dia em que andaram juntos de moto. Mas sei que os mais incríveis, fiéis e despretensioso amigos que já cruzei na vida são homens. Talvez não com H maiúsculo, mas produtores de esperma e portadores de pinto, testículos, próstata e nome de macho.

    Já dizia o mestre Rubem Fonseca que existem pelo menos quatro tipos de sexo: o biológico, o gonádico, o jurídico e o psicológico. Por biológico, entenda toda a estrutura que faz do seu pai o penetrante e da sua mãe a penetrada. Sexo gonádico é aquele que usa como parâmetro as gônadas – ou seja, os testículos nos homens e o ovário nas mulheres. O sexo jurídico, também conhecido como sexo civil, é aquele que está nos seus documentos e que define o seu gênero – não tenho dúvidas de que se um erro do cartório me fizesse Bruno em vez de Bruna, eu sofreria um bocado. E por fim, há o sexo psicológico, que é aquele que nos considera como nós mesmos nos sentimos – o que você tem no meio das pernas não necessariamente o define. Bem, depois de toda a aula, é a hora da chamada oral: como definir um homossexual de acordo com os quatro tipos de sexo? Exclusas as particularidades e as ocasionais cirurgias de mudança de sexo, um gay nada mais é do que um homem biológico, gonádico e jurídico vivendo no psicológico de uma mulher. Placar final: três porções de homem contra uma de mulher. Portanto, se existe amizade entre mulheres e gays, é definitivamente possível uma amizade verdadeira e despretensiosa entre homens e mulheres.

    Meu título imaginário de musa dos homossexuais e afins faz de mim uma grande suspeita para falar. Mas defendo até a morte a teoria de que, salvo raras exceções, um amigo gay é a melhor espécie de amigo que a vida pode prover a uma mulher heterossexual. Em primeiro lugar, justamente porque eles são homens e sabem com toda a propriedade do mundo que ter uma ereção não implica necessariamente em estar morrendo de prazer. Eles conhecem a fundo as zonas erógenas do corpo masculino – ninguém melhor que eles para contar o que faz um boquete ou um hand job ser inesquecível e para dizer-lhe se as técnicas que você usa funcionam ou não. Segundo, porque a sinceridade lhes é inerente: se você estiver parecendo um docinho de festa naquele vestido rosa bebê ou se seu novo corte de cabelo tiver ficado um desastre, eles vão dar um toque antes mesmo que a corja de falsos comece a elogiá-la pela frente e a criticá-la pelas costas. Terceiro: o seu amigo gay não olha para os seus peitos enquanto você está falando e provavelmente nunca irá querer comer você – e isso faz dele o parceiro perfeito para dançar até o chão na balada ou para dormir junto naquela viagem de final de semana em que sobram perrengues e faltam camas.

    Aliás, eu dividiria o aperto da minha cama com meus amigos gays pelo resto dos meus dias. Faria da minha casa o recanto das diversidades, com brancos e negros, ocidentais e orientais, cortinas de arco-íris, pirulitos em formato de pênis, Lady Gaga na vitrola o dia inteiro com direito a dança coreografada. Poucos os que não me chamariam de louca e promíscua, mas eu não daria a mínima. Enquanto minha voz aguentar, gritarei pela igualdade. Enquanto os meus braços suportarem, hastearei a bandeira do movimento. EPA, EPA, bicha não! Sou apenas uma fiel partidária do respeito e do amor. Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar*.

    * Trecho de “Paula e Bebeto”, composição de Milton Nascimento.


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