Mais uma vez você volta pra casa depois de um daqueles términos nada cinematográficos depois do passeio no parque ou durante um jantar de desculpas. Dessa vez foi você quem deu o primeiro passo e dispensou com o famoso e velho clichê “Você é uma pessoa ótima. O problema não é você, sou eu”. A verdade é que você já não aguentava mais aquele cara que sumia do nada sem dar notícias, ou aquela garota que brigava com todas as suas amigas e infernizava a sua vida com ciúmes. Daí você conclui pela milésima vez que tem dedo podre para relacionamentos e que só esbarra em gente errada (ou, na maioria das vezes, grandíssimos filhos da puta). Mas será que o problema realmente é com as pessoas com que você esbarra por aí na vida?
A maioria das pessoas reclama o tempo todo que a culpa pelo término é do outro. Ele pode não ter agradado, ela pode ter feito você sofrer um pouco, ele pode ter sido um belíssimo cara-de-pau que mentia descaradamente e assim por diante. Vendo assim, claramente, o erro é deles, oras! E é nesse tom de revolta pós-término que você não consegue enxergar: essa não é a primeira nem a segunda relação que acaba assim. Você tem desenvolvido um padrão de relacionamentos furados, jogados a naufrágio e deixados em ilhas desertas esperando para morrer durante toda a vida (ou num período dela). Já parou pra pensar que quem muito comete o mesmo erro é que está errado? Até na apropriação do tal dedo podre, ele não pertence ao outro. Ele pertence a você. O dedo podre é de toda responsabilidade sua. E não é que você só escolha pessoas erradas, é que você escolhe e age errado com o tipo de relação que busca e vive.
É que a gente tem o costume de jogar a bola da vez pro outro lado e afundar nas reclamações de que eles poderiam ter se esforçado mais. Os seus cinco ex-namorados eram todos meio assim e assado, meio parecidos na forma de agir com você e não é possível que eles tenham entrado num complô para agir da mesma forma. Assim como aquele cara ou aquela garota que só liga pra você quando quer sexo fácil ou precisa de um ombro-mais-que-amigo. É o seu padrão de relacionamentos que tem levado a sua vida amorosa para o eterno ciclo da falha. Nada contra a sua preferência por um tipo físico ou psicológico em comum, mas você acaba não reparando que o ciclo se estende para além disso. O seu comportamento, na maioria das vezes, é idêntico. Você age da mesma maneira encanada, ou ciumenta, ou desapegada demais, ou emotiva demais, ou de outras mil e uma maneiras repetidas. Essa nossa ingenuidade sentimental, que é visível nos términos e nos períodos de baixa, só mostra o nosso lado da moeda. Não adianta de nada pagarmos de coitados, nos martirizarmos e vivermos de porques enquanto isso sempre refletir um egoísmo gigante na hora de admitir os erros de cada relação e dividir a conta da culpa.
Você ainda vai quebrar a cara de novo se continuar pensando que são os outros que sempre erram em cada nova tentativa. Se o erro é recorrente, valeria a pena dar uma olhada para trás e iniciar um processo de auto-análise. Largar essa ingenuidade e a vitimização de lado e começar a colocar todos os pingos nos is do seu modo de levar a vida amorosa. Repensar que você tem sempre sua parcela de culpa e que, talvez, seus relacionamentos não dêem certo porque você costuma fazer alguma coisa, ou porque você tem mania de enjoar rápido das pessoas, ou porque a sua prioridade é a vida profissional e isso sempre atrapalha tudo etc. Só dessa forma é que você vai entender que, muitas vezes, aquele clichê que a gente usa pra dispensar alguém é verdadeiro. O problema não é com ele(a), é com você.