Sabe, as mulheres têm de lidar com alguns dilemas que são, além de supérfluos e injustos, completamente alheios à natureza masculina. Por exemplo, se um homem transa com uma mulher logo na primeira noitada, ele se sente O Máximo, O Maioral. Já a mulher terá que enfrentar o julgamento das amigas, do próprio comedor, e até mesmo da sua consciência, caso não seja muito bem resolvida com sua sexualidade. Essa “culpa ” é algo que homem nenhum vai entender, pois oras, homem nunca recebe um adjetivo depreciativo em tal situação. Já a mulher, vai de “puta, vadia, fácil, sem valor” pra baixo. O que pra eles é frescura, pra gente é uma verdadeira disputa de valores. Sad but true.
E não é apenas na situação supracitada que esse moralismo injusto faz-se valer. Uma coisa que me intriga é a tal da “mulher oferecida”. Essa é aquela mulher que, quando tem interesse em um homem, deixa isso bem claro. Chega junto e chega chegando, sem aqueles pudores, receios e recatos que normalmente narram o comportamento da mulher durante o flerte. Dependendo da criatura, ela até força a barra e constrange o pobre do rapaz acuado, tornando a situação de caça desagradável para ambos. Tem também o caso da pobre boboca que fica secando o rapaz de longe a vida toda, desviando o olhar quando ele vira em sua direção e sem coragem sequer de jogar um sorriso.
Como eu sou legal, não quero que você pareça nem uma louca desesperada por sexo e menos ainda que você deixe os homens que te interessam passarem batido. É pra isso que esse Guia prático do flerte (para mulheres) foi elaborado. Eu tinha bolado esse texto como uma lista passo-a-passo, mas nessas horas não existe fórmula mágica nem receitas prontas, apenas uma série de atitudes da sua parte que te tiram do exílio na Ilha da Mulher Pamonha.
Começando pelo básico do básico, cuide-se. Apesar de que ser mulher não é lá muito fácil –além dos dilemas morais, temos ainda que arcar com menstruação, gravidez, depilação e afins – quando o tópico é a abordagem com intenções sexuais, a coisa é muito mais fácil pra gente. Uma mulher cheirosa e bem arrumada é agradável a todos os homens – inclusive aos casados e aos gays, mas acho que dar mole pra esses dois tipos não vai ser lá muito proveitoso pra você. E eu faço questão de enfatizar que não tô falando de “ser” bonita, e sim de cuidados básicos com a pele, dentes, cabelos e… ah, do que eu tô falando? Toda mulher sabe bem o que é se arrumar. Se pra você beleza interior é o que conta, melhor andar por aí com as mais recentes fotos da sua endoscopia, pois dificilmente se atrai a atenção de um homem se tiver sebosa ou fantasiada de pano de chão.
Daí a mulher se arruma, passa 4 horas no salão fazendo mechas californianas, mais 2 horas fazendo mão-e-pé, mais 19 horas escolhendo roupa e fazendo maquiagem. Tudo isso pra voltar pra casa sozinha e dividir a cama com sua hesitação e neuras? Solta a franga, amiga. Na minha opinião, mulher tem mais é que se preocupar menos com julgamentos e se divertir mais. Normalmente, a inconsciente opressão natural e tradicional leva as mulheres ao terrível hábito de ter vontade, mas ficar se contendo. Como isso vem desde cedo, desde sempre, acaba virando rotina, e o que eu mais vejo por aí é mulher com cara de cu porque tá sem uma haste do amor pra sentar em cima faz 57 meses. Ou gatinha saindo no zero-a-zero. Linda como uma Barbie dentro de uma caixa de plástico. Intocada e imaculada, quando o legal mesmo é borrar o batom e acordar com os cílios pregados de rímel.
Ok, agora você já está bem cuidada e disposta a escarrar sobre as amarras sociais que te prendem em nome de fazer o que bem quer. Tá solteira, tá sem macho, tá com fome. Imagine que você é uma pescadora faminta. Você não vai pegar peixe nenhum caso se jogue desesperada na água, agarrando qualquer sardinha gorda e lerda na base da unha; e menos ainda se ficar sentada no barco olhando os peixes passarem, e perguntando aos céus onde estão os homens legais. Observe a maré. Essa prática serve tanto para os homens quanto para as mulheres. Se o mar não tá pra peixe, procura outra área pra pescar ao invés de gastar suas fichinhas em vão. Aliás, observar a maré antes de agir em vão é fundamental em tudo nessa vida, desde xavecos a empregos enfadonhos que precisam ser deixados pra lá na primeira oportunidade boa. É questão de observar e dar o pulo quando o timing for correto.
Enquanto se observa, nada te impede de dar a brecha. Muitas vezes o cara morde a isca já nessa etapa e a sua participação ativa como xavequeira termina aqui, é só deixar a coisa fluir e continuar dando corda para o futuro alpinista de seus seios arfantes. Tá ligada a tal da mulher charmosa? Tudo questão de linguagem corporal: ser sorridente, lançar olhares (sem encarar, porque mamãe ensinou que é feio), mexer no cabelo, encostar casualmente no braço dele.
Depois de demonstrar que você tá na área, jogue sua isca. É aqui que a maioria das mulheres morre na praia. Jogar a isca é xis da questão, tem que ter AQUELA DOSE de bom senso pra chegar junto sem ser agressiva, demonstrar que se tem atitude e sabe ir atrás do que quer, mas ainda permitir que ele tenha o papel de “conquistador”. Abordar um homem, normalmente, é uma tarefa muito fácil. Você dá o impulso e ele faz o resto – isso se ele tiver interesse em você. Eu sou a favor da abordagem casual, do tipo chegar perto e puxar um assunto qualquer. Sim, é literalmente isso: UM ASSUNTO QUALQUER. Perguntar onde é o banheiro, que horas são, se você viu o novo clipe do Chiclete com Banana, se ele sabe onde ajustar a porra do relógio no seu celular novo, sei lá, qualquer abordagem inocente e furada serve, o importante é como você conduz a conversa depois de iniciar uma aproximação. Seja simpática, o papo tem que fluir, e quem faz a blasé não ajuda muito nisso. Dê risada, cara feia deve ser fome ou caipirinha com pouco açúcar. Eu tenho muitos amigos homens, todos bonitos, engraçados e bons de papo, e não sei se eles têm o dedo podre ou as mulheres chatas se multiplicaram em progressão geométrica. De vez em quando eles me aparecem com cada mulher entediante, que não sabe rir nem faz questão de se enturmar e participar das conversas, sabe? Tem que ver isso aí, mulherada. Não adianta ser “das certinhas” se sua presença é tão marcante quanto incenso de baunilha que passou da validade. Citando Oscar Wilde, it’s absurd to divide people into good or bad, people are either charming or tedious.
Ser contida nem sempre é melhor. Se insinuar não é vulgar. Enfrentar os paradigmas pra fazer o que quer é uma sensação que você aprende a apreciar conforme vai se arriscando. Pra mim, mulher em tom pastel é um pé no saco. Lugar de princesinha passiva é sozinha e suspirando no alto de uma torre solitária.