Tem gente que nem sabe que eu existo. Muitas vezes sou negligenciado e subestimado diante de outras bolas muito maiores, como peitos ou bundas. É isso mesmo. E você passa tempo demais se preocupando com o seu exercício egoísta de entrar e sair. Acha que já fez diversas mulheres gozar com seu mode britadeira e nem imagina que o responsável por fazê-la gemer e estremecer como se tivesse levado um choque fui eu.
Sou ovelha negra pra muita gente. Dizem por aí que eu não faço nada de útil porque minha única e exclusiva função é o prazer. Não serei hipócrita – é pra isso mesmo que eu existo. Os cientistas até se recusam a me estudar mas no fundo acho que não passam de um bando de recalcados com medo do meu poder. Talvez até temam pelos seus falos aos constatarem que no quesito prazer, nem sempre eles se fazem necessários. Dispensáveis, alguns inclusive diriam.
Você aí que acha que a sensação de uma lambida da sua cabeça de baixo só pode ser coisa de outro mundo, provavelmente sairia do corpo se soubesse do que eu sou capaz. Porque sou feito de mais de 8mil fibras sensoriais, muito mais do que qualquer parte do corpo e, pasme, quase o dobro da quantidade encontrada na cabeça do seu pau. Os ingênuos acham que eu sou somente uma bolinha escondida por trás de um capuz. Bobinhos. O que você vê é somente a ponta do iceberg – eu existo pra dentro.
Por isso, aquela história de orgasmo vaginal tem sido bem mal contada. Na maioria das vezes, elas não gozam com a sua fricção eterna que, como bem definiu Regina Navarro, provoca uma cistite mas não provoca um orgasmo. O que as deixa fora do corpo é quando sou estimulado – primeiro por fora e, depois com a ajuda do meninão aí, por dentro. Há inclusive vários estudiosos que defendem que sem a minha presença, não há orgasmo.
E você aí me menosprezando sem saber que me ignorar é receita certa pro fracasso.
Mas sempre há tempo para se redimir. Sou facinho facinho. No entanto, há alguns passos a seguir: Não chegue com tudo. Preciso ser convencido de que vale a pena trazer toda aquela quantidade de sangue pra me regar. Assim como o pinto, que lateja quando sente prazer, eu me incho, me inflo. Mas chegue pelas beiradas. Gosto de beijinhos, de lambidas, de provocações no meu entorno. Funciono bem quando molhado. Venha direto ao ponto e observe-a se contorcer de aflição. Eu sou a linha tênue entre prazer e dor – só depende de como você me leva.
Quando vejo que seu esforço merece ser recompensado, então eu te chamo. Quero atenção total. Sem foco, nada feito, por isso não me abandone e, em questão de minutos, irá ver os meus efeitos no corpo dela. Os pelos se arrepiando. A temperatura subindo. Todas as células dela passam a trabalhar em prol do ápice. O coração dispara. Gemidos vão sendo emitidos mesmo sem que ela queira – é o corpo falando de dentro pra fora. A sensação, antes concentrada ao meu redor, vai tomando o corpo todo até que não há mais nada que ela possa fazer senão gozar. Pros franceses, o orgasmo se chama “la petiti mort” ou a pequena morte porque nesse instante, o racional se desconcerta deixando sua vítima sem controle algum. Se entregar não é mais uma opção.
Eu, como não gosto de confetes, continuo na minha, discreto atrás daquele inocente capuz. Mas meu poder se encontra lá, a espera de quem tiver coragem de provocá-lo. Desculpe desapontá-lo, mas seus esforços e suas técnicas aprendidas com tantas horas de filmes pornôs acumuladas na sua existência de nada servem sem a minha presença.
Da próxima vez em que disserem que o cachorro é o melhor amigo do homem, lembre-se de mim.
Seu amigo,
Clitóris.