Esse é um espaço para tirar todas aquelas dúvidas sobre sexo e relacionamentos que você sempre quis saber, mas não tinha pra quem perguntar. Mandeemailparaoisemvergonha@gmail.com com o assunto Tira-dúvidas.
Casal Sem Vergonha,
Gostaria de uma ajuda. Estou namorando há 1 ano e meio um rapaz super gente boa, simpático, engraçado. Porém, ele é muito apegado a sua família. Sei que isso é mais uma virtude que um defeito mas em alguns momentos isso atrapalha nosso relacionamento. Recentemente brigamos porquê eu queria viajar com ele no Reveillon, mas escutei dele a infeliz notícia que ele não passa essa data longe de casa, são ordens da família e ele tem que cumprir. Se eu quiser passar com ele tenho que abrir mão. Ele pelo visto jamais abrirá mão de enfrentar a familia por mim.
Não sei o que faço. Gosto muito dele mas toda vez que tento conversar sobre esses problemas com ele nós brigamos, ele me trata com grosserias e eu fico pensando em terminar. Como eu posso lidar com uma situação dessa? Sinto que nunca serei prioridade na vida dele enquanto a família estiver envolvida. Me ajudem, por favor.
Leitora Anônima
Querida leitora,
Na vida nem sempre dá pra ter tudo. Antes de ficar brava com a situação, é preciso contar até 100, respirar azul e soltar lilás e se lembrar de um pequeno detalhe: a família dele já existia muito antes de você. Aliás, sem a família, ele não existiria e vocês nunca teriam se conhecido. Por isso, antes de mandá-lo para a pqp por esse motivo, tente não ser injusta.
Agora, todo mundo tem família, mas cada um decide qual tipo de relacionamento quer manter com ela. Pelo que entendemos, o seu namorado a trata como prioridade e se vocês já conversaram sobre isso e ele é categórico ao afimar que não quer mudar, não há muito a ser feito. Você precisa colocar na balança as coisas das quais gosta nele junto com esse fator que te chateia tanto. Se achar que vale a pena continuar mesmo sabendo que ele sempre priorizará a família, vá em frente. Se achar que vai ser difícil demais lidar com essa questão, parta pra outra.
Parece radical demais mas precisamos de parar de querer mudar o outro. Quando começaram a namorar, você provavelmente já tinha reparado que ele era muito apegado à família e decidiu investir mesmo assim. Agora não dá pra tentar mudar o sujeito. Há um tempo, escrevemos um artigo sobre essa nossa mania de querer moldar nossos parceiros de acordo com o nosso ideal. Vale a pena reler um trecho dele que serve bem para a sua situação:
“Vamos imaginar o seguinte. Você quer um bichinho de estimação – quer um bicho companheiro, que possa fazer carinho, que seja alegre, que goste de interagir com você. Um cachorro seria perfeito. Você sabe o que quer e sai em busca do tal bichinho que irá te fazer feliz. Mas chegando em uma loja de animais, você não encontra o que estava buscando – só encontra passarinhos, mas está tão determinada e ansiosa para ter logo uma companhia que decide mesmo levar um deles. Compra gaiola, ração, imagina que ele vai ser muito feliz com você e por alguns momentos até esquece o que estava procurando antes de encontrá-lo.
Eis que você leva o bichinho para casa, mas depois de algum tempo, começa a se sentir sozinha. Sente falta do carinho, do aconchego – até tenta interagir com a coitada da ave, mas tem a impressão que não consegue se conectar a ela, como se ela vivesse em outra dimensão. Você admite que ele é bonito, canta bem, mas falta o resto. Depois de tanto tempo sem estabelecer contato, e extremamente carente, você pega o pássaro, começa a fazer carinho, dar um monte de beijos, enquanto o pobre do bicho tenta desesperadamente se livrar da situação.
Já deu para perceber que insistir não vai te levar à lugar nenhum – por mais que você tente, ele não é um mutante e não vai se transformar em cachorro ou gato só porque você quer. Passarinhos não fazem carinho, não dão beijos, não dão lambidas de amor. Passarinhos cantam e voam. Se ter um bicho carinhoso era tão importante para você, deveria ter esperado mais ou procurado mais pra pegar um cachorro invés de um pássaro. Tentar transformá-lo só vai trazer frustrações e sofrimento para os dois lados. Nesse caso, você tem duas opções: passar a vida toda tentando adestrar o passarinho para que ele aprenda a se comportar como um cachorro, ou deixar o bichinho livre e procurar outro que possa te dar o que você procura.“
Agora a decisão está com você, só você pode decidir o que é certo e o que é errado nessa situação. Mas, independente da sua escolha, vale lembrar que o que não vale a pena é perder tempo sendo infeliz – corra atrás da sua felicidade.
Boa sorte!