Términos nunca são fáceis. Por isso mesmo é que muitas pessoas, mesmo sabendo que o amor acabou, adiam o fim. Procrastinam o término como um estudante que enrola para fazer o dever de casa. É que na teoria é fácil, é simples. É praticamente matemática da escola primária: a soma de um relacionamento tem que ser positiva. A relação deve acrescentar algo, fazer bem para ambas as partes envolvidas. Caso o resultado dessa equação seja negativo – traga mais sofrimento que crescimento e prazer -, então tem algo errado nessa conta. Precisa passar a borracha em algum numeral para alterar o resultado dessa soma. Mas quem disse que resolver equações é fácil?
Quando começamos um relacionamento, abrimos espaço em nossos corações para uma nova pessoa ocupar. Tem gente que já está calejado e vai se abrindo aos poucos, tem aqueles que se jogam com tudo sem medo nem freio. Conforme o tempo vai passando, e o relacionamento progredindo, aquela pessoa vai cada vez mais fincando suas raizes, se adentrando em você e se fazendo hóspede da sua alma. E com isso, torna-se a nossa zona de conforto os bom dias sussurrados na nuca, fazer o ombro do outro de seu travesseiro, a presença cotidiana nas manhãs quentes só para sentir no calor do outro que você não está sozinha. Mas quando o amor acaba, de que vale o abraço vazio?
É algo praticamente inerente ao ser humano essa mania de não saber largar o osso. Na maioria das vezes, adiamos o término por medo. Medo ou preguiça de recomeçar, reconquistar, dar a cara a bater. É que somos frágeis seres humanos, imperfeitos e solitários. Assusta-nos quando nos damos conta de nossa solidão. Sentimos que temos que nos agarrar em alguma coisa, em qualquer coisa, então que seja na pessoa ao lado! Mesmo que nem sempre a pessoa ao lado te faça bem. “Pelo menos está aqui”.
É nessas horas que precisamos aprender a praticar o desapego emocional. Do mesmo jeito que, na época de final de ano, aproveitamos para arrumar o quartinho da bagunça, limpar o armário e fazer uma faxina no guarda-roupa. Desta mesma maneira deveríamos fazer a nossa faxina interna. Fazer a limpa no coração. Se livrar daqueles sentimentos ruins que às vezes, por puro rancor, ficam lá guardados só fazendo mal e liberar espaço para emoções novas entrarem. É preciso fechar um ciclo para que um novo comece, não adianta dar murro em ponta de faca e lutar contra situações que jamais mudarão. É uma virtude saber a hora certa de deixar as coisas como estão para prosseguir com outras.
Para isso, é preciso estar ciente de que cada escolha é uma renúncia, mas que às vezes é preciso abdicar certos hábitos para enxergar novas perspectivas. Largar a tão preciosa zona de conforto e não ter medo da solidão, de sofrer. O sofrimento faz parte, te fortalece e serve para se desapegar do amor vencido. Quem nunca na adolescência morreu de amores por alguém, achou que seu mundo ia acabar, mas agora, olhando para trás, vê quanto drama fez e tornou algo infinitamente maior do que realmente é? Precisamos desse momento de dor para olhar para nós mesmos, refletir e não carregar as mesmas frustrações e mesmos equívocos para relacionamentos futuros. E não precisa ter medo de recomeçar. É melhor quebrar a cara do que se tornar apenas mais uma pessoa na sala de jantar que rasga a vida pela janela.