É tempo de folia! E o mundo diz que tudo o que você precisa fazer nestes quatro dias (ok, tem gente que estende pra uma semana) de festas é curtir a vida, beijar muito e sair pulando como se não houvesse amanhã. E há aqueles que olham o Carnaval com suspeitas e vistas tortas. Quer saber, danem-se eles!
Tem muita gente por aí que passa tempo demais se preocupando com sua própria imagem para o resto do mundo. Amigas que se escandalizam de pensar em transar no primeiro encontro porque sabem (ou imaginam) que vão ser taxadas de vagabundas. Ou os caras que vivem tomando cuidado porque não querem topar com uma garota grudenta por aí que quer algo a mais quando ele só quer aquilo. Por isto, eu sou a favor da honestidade dos foliões. Todo mundo está na chuva pra se molhar, e assim ninguém tem o direito de criticar ninguém.
Antes que me tomem por uma foliã profissional, é melhor esclarecer que eu nunca curti, eu mesma, um Carnaval. Mas isto porque os ritmos da festa, fazer o quê, não me agradam tanto. Já tive a grande oportunidade de acompanhar um desfile de escolas de samba de São Paulo lá na pista, no chão mesmo, com a bateria passando por mim às quatro da manhã e, nesta hora, reconheço – não sou ruim da cabeça nem doente do pé. Tudo que fiz foi me entregar ao samba que passava por mim sem pedir permissão.
Mas, no mesmo espírito de confissão, digo ainda que sempre fui uma discreta admiradora do espírito carnavalesco. Afinal de contas, que mortal alucinado pela rotina de trabalho do nosso hoje em dia não levanta as mãos pros céus na esperança de um feriado, ainda mais um no qual a regra é se perder, é esquecer de se encontrar, é perder a linha sem pedir desculpas?
Estou aqui para fazer um apelo. Não para o seu bom senso, mas para o mau senso. Aquele que nos faz fazer as coisas de que nos arrependemos no dia seguinte, mas que sustentam nossa sanidade mental – e umas boas histórias pras amigas – durante várias semanas. Agarre com toda a força o espírito desse nosso feriado tão brasileiro, junto com o cara boitinho que você está e olho há semanas, mas não tem coragem de chegar junto. Esqueça as convenções sociais, deixe de viver nesses seus tons de bege de todo o dia e mergulhe nas lantejoulas e purpurinas dos dias mais coloridos do ano. Permita-se, sem escutar demais a vozinha da autocensura, o que não lhe é permitido no resto do ano, satisfaça todos os desejos escondidos que você mal confessa em voz alta. Se você não gosta da folia e muvuca características dessa época do ano, não importa – pegue um pouco do espírito livre que vem junto com a data e traga para a sua vida.
Afinal de contas, o Carnaval é um mal necessário. Mal, digo eu, porque não deveríamos ter que instituir um período tão curto de dias para não ligar para o que pensam de nós. E necessário porque assim, quem sabe, a menina que passa os outros 361 dias do ano se preocupando em não parecer a puta da festa não passa a ouvir mais os próprios desejos e menos a rádio-peão-da-opinião alheia? Vida é isso, meus amigos, lembram? É viver, e deixar a vergonha de ser feliz atrás do trio elétrico. Porque só não vai quem já morreu.