Eles passaram os últimos cento e quarenta minutos se desencontrando, se apaixonando e se machucando bem em frente aos seus olhos.
Ele, o típico danificado emocional, recusa-se a se entregar a toda e qualquer forma de envolvimento. Ela, moderna e articulada, levanta a bandeira da independência ao mesmo tempo em que tenta enterrar dentro de si seus desejos por um companheiro romântico e apaixonado.
Essa poderia muito bem ser a sua história, mas é mais uma dessas comediazinhas românticas de Hollywood. E o que provavelmente difere a ficção da realidade é que, um pouco antes dos créditos subirem e as luzes se acenderem no cinema, o mocinho lá na telona parou um avião que partia para o Alasca levando consigo o que ele acabara de descobrir ser o grande amor de sua vida. Ou então ele organizou um flashmob em plena Times Square para dizer o quanto ela significa para ele. Ou ela resolveu invadir a festa de noivado do irmão dele para dizer o quanto ele é burro por desperdiçar a chance de encontrar o amor verdadeiro. E lá mesmo eles se casaram.
Mas o filme acabou aí. E o que ficou depois na sua cabeça foi aquela perguntinha inconveniente: “será que um dia isso pode acontecer comigo?” Oi? Mas é óbvio que NÃO! O filme acabou ali justamente porque a realidade dos dias que se seguiram foi real demais para servir como entretenimento. Eles tiveram que pagar contas (e uma multa ao estado por parar o avião do Alasca), deixaram de frequentar restaurantes legais porque precisaram alugar um apartamento de 40 m2 que levou metade de seus salários. Ela se frustrou porque nunca mais recebeu uma declaração de amor que chegasse aos pés daquele Flashmob. O irmão dele nunca a perdoou pela invasão na festa de noivado.
A realidade pode ser dura demais para caber num filme romântico, assim como o romantismo exagerado de Hollywood pode ser insustentável a médio e a longo prazo na vida real. Eu costumo dizer que Hollywood fode a vida da gente desde sempre. Nos deixamos levar pela visão distorcida de que o amor precisa de manifestações mirabolantes para valer a pena e de que tudo deu certo no fim quando, na verdade, ainda nem tinha começado.
Minha mãe diz que você precisa comer 1 kg de sal juntos para conhecer seu companheiro. Já eu acho que fazer uma viagem longa de carro com a outra pessoa pode ter o mesmo efeito sem prejudicar sua pressão arterial. Se durante uma viagem de oito horas você não se incomodar com aquele hábito angustiante que ele tem de balançar as pernas sem descanso, se a preocupação demasiada dela em não deixar-lhe o vento bagunçar o cabelo passar despercebida e se vocês tiverem assunto para conversar e driblar aquele clima de elevador, considerem-se vencedores de uma importante prova de fogo: a da convivência forçada.
Não sou uma pessoa amarga e passo muito, muito longe da razão e da inteligência emocional quando estou apaixonada. Amo os filmes “de mulherzinha”, e foram eles que me ensinaram a sair do cinema imaginando a continuação daquelas histórias mirabolantes como forma de buscar o equilíbrio que faltou até ali. E é justamente disso que o mundo precisa: equilíbrio, minha gente! Provavelmente você vai ganhar conchinha essa noite, mas a sua primeira vez com ele foi caindo de bêbada e você nem lembra se gozou. Se o pedido de namoro chegou acompanhado de flores, não se frustre se nunca mais as receber. Ele pode nunca tê-la pedido em namoro, mas a apresentou para os pais dele como a mulher da sua vida. E assim, apoiados no equilíbrio, a gente aprende a ser mais felizes quando tudo realmente começa.