Entre as inúmeras perguntas que rondam o imaginário popular, uma delas merece destaque num mundo de sexualidade aflorada: por que um homem se sentiria louco para arrancar o pouco que resta da roupa de uma mulher que já se encontra praticamente nua? Os mais apressados diriam que homem de verdade é basicamente visual e gosta mesmo é de mulher pelada, em posições excitantes e até excêntricas. Eu diria que essa visão é um tanto quanto superficial – apesar de ser verdadeira às vezes, não condiz com a profundidade da excitação masculina.
Para entender essa questão, é necessário mergulhar no cerne do tesão do homem. Eles não querem sexo fácil. Se o quisessem, procurariam um defunto para transar. O que todo homem quer encontrar é um jogo de forças que explicite e valide a sua capacidade de exercer seu poder pessoal, de descobrir, de criar sua marca personalizada nos sentidos daquela mulher e de descascar o fruto com uma habilidade que só a ele pertence.
E aí vem a questão que atormenta mulheres de todas as idades: quando ele descascar o meu fruto, vai notar na manchinha originária daquela batidinha na fruteira? O pânico que as mulheres têm em relação às estrias e celulites só seria justificável se esses pequenos detalhezinhos fossem tão absurdamente evidentes que abalassem a leveza e a sensualidade pessoal, como um ruído na comunicação. Aquelas mulheres que já entenderam que detalhes pequenos não restringem o desejo de um homem são as mais sábias. Homens de modo geral, quando vão procurar um objeto diante do nariz, se frustram – eles não se apegam a mínimos detalhes e não são nada habilidosos em fatiar a realidade em pequenas informações.
Gosto de uma frase que diz que um homem era tão pobre, mas tão pobre, que só tinha dinheiro. O mesmo digo para quem quer se aventurar nas artes sexuais: se você só tem tesão e esquece de cultivar uma mente interessante, sua transa será fadada ao fracasso, meu amigo. Principalmente a longo prazo.
Num encontro casual, o casal iniciante se apega à aparência porque é só por aquilo que eles esperam. Os amantes casuais acreditam, ingenuamente, que o couvert se reduz ao prato principal. Nessa fase, a aparência imediata pode ter impacto maior, porque faltam outros recursos. Como não existe uma intimidade mais profunda, o conhecimento que um tem do outro é raso. E aí, a aparência reina: entre Ísis Valverde e Maria Bethânia, quem você escolhe?
Para os que estão em um relacionamento duradouro, já não dá mais para seduzir contando com a ideia do pegador de pau duro permanente ou da mulher deliciosa com buceta onipresente e molhada. As máscaras foram embora. Agora, o casal precisa se apoiar em um segundo nível de engenhosidade e levar o sexo para um padrão que vai além do óbvio – e é aí que entra a importância da intimidade. Nessa hora, a lingerie bonita é muito mais que uma peça para se arrancar desastradamente a pretexto de parecer sedento. Ela é parte de uma trama mais refinada de insinuação de um tesão que não se mostra prontamente e precisa ser criado a quatro mãos, bocas, línguas e movimentos.
Para os mais experientes, o visual no sexo é sempre um convite, uma provocação, uma afronta, um deleite – raramente é apenas o que se vê. Parafraseando Antoine de Saint-Exupéry em “O Pequeno Príncipe” eles entendem que “o essencial é invisível aos olhos”. De fato: o strip tease não é tão excitante pelo seu desfecho, já que o final é óbvio, mas porque evidencia a personalidade de uma mulher que está a vontade com suas curvas, marcas, medos e desejos. O que excita o homem nessa hora, sem que ele saiba, é ter diante de si uma mulher que, de um momento para outro, se mostra uma deusa acima de si mesma e que transborda, num gesto ou numa peça de roupa delicadamente tirada, a sensação inesquecível que ambos adentraram uma outra dimensão da vida, resguardada com exclusividade entre quatro paredes.