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De repente o amor acabou. Cigarros acesos e copos com uísque sobre a mesa. As palavras eram desnecessárias, a tua embriaguez e o meu estado de torpor dispensavam qualquer outro gesto, nada era mais claro do que o desejo de ir embora. Não era o começo de uma nova história, mas todas as fases atropeladas do nosso caso antigo. Uma garrafa, um cinzeiro e desejos calados ao nosso redor. O amor era veneno, era tortura a cada tragada. O amor naquela noite era insensatez, era passar horas em claro esperando amanhecer, por não saber como sair, não ter para onde ir… Era não aceitar o fim que estava ali escancarado. Nossas mãos estavam distantes e não queriam se entrelaçar; os pensamentos também. Acabou, acabou! O amor em todas as suas substâncias se foi, só para não nos deixar dormir. Era tormento encarar o tic-tac do relógio, e o barulho do meu salto era pesadelo… Era querer acordar da realidade e ao mesmo tempo querer encará-la. Era paradoxo. Nosso amor se dissolveu no conteúdo etílico, virou fumaça nas nossas bocas.
As únicas coisas que podíamos compartilhar naquele momento eram a mesa de centro e a solidão, tão certa quanto as vinte bitucas que contei enquanto o tempo passava. Um copo se quebra para mexer no silêncio quase intacto. Eu tento juntar os cacos e me corto. Meu dedo sangra. Você se levanta e, sem nada a dizer, prepara outro drink, enquanto eu faço um curativo. O amor corta, e não há o que fazer a não ser esperar a próxima dose. O amor se estilhaça no chão e deixa seu líquido impregnado no tapete que ninguém quer trocar. A nódoa permanecerá ali, os vidros despedaçados também, e eu não vou querer tocar em nada, vou pedir para alguém limpar, dedetizar tudo, tirar o teu amor da minha sala de estar, pensei. Eu queria me retirar dali, mas estava em minha casa. Como me livrar da tua presença? Seria indelicadeza da minha parte te expulsar. Eu desejava te deixar ir quando ninguém acordasse, pois eu sei que passaríamos a noite com os olhos abertos, como se já tivéssemos previamente pactuado isso entre nós; era parte do nosso tácito acordo. Já era quase dia, faltava apenas uma palavra e a coragem de te botar para fora. Adeus era suficiente.
Subo as escadas, vou ao meu quarto… o amor não estava lá. Nem no banheiro, nem no corredor. Desço até a cozinha, vou até a área de serviço, mas não, o amor não habitava mais nenhum cômodo da minha casa, nem mesmo se escondia. Só havia vestígios nos nossos copos e na minha sala. Ele não queria ficar. Precisava, definitivamente, migrar dali. Mas você continuava no mesmo lugar, deitado no meu sofá, fedendo à tabaco, com a cara inchada e os olhos vermelhos. Seis horas da manhã, já bebemos demais, já nos intoxicamos, ficamos silentes por muito tempo. Ninguém morreu de overdose, porque amor não mata. Um dia apenas deixa de surtir efeito, de tanto que insistimos. Resta-nos a procura por outras drogas, outros vícios, porque sabemos que o nosso sentimento era plenamente substituível, que era droga barata. Então, você calçou os sapatos e nos despedimos com um último brinde, um último trago, a última dose de sentimento que não se ressente. Hoje estamos embriagados, completamente empanturrados de amor amargo. E amanhã, nada mais do que ressaca.