Uma das coisas que a gente aprende ao longo da vida é que não dá para experimentar todas as emoções simultaneamente. “Tudo, aqui e agora” é um mote divertido, mas nem sempre ele se aplica. Estar apaixonado, por exemplo, me parece incompatível com o arrebatamento das relações clandestinas. Se você está vivendo um grande amor, se está tentando construir uma relação duradoura, talvez não seja boa ideia sair com aquela pessoa que tira o seu fôlego no elevador – ainda que seja apenas uma aventurazinha.
Não se trata, veja bem, de uma questão moral. Limites morais existem, mas estou falando de impossibilidades emocionais de ordem prática. A luxúria, frequentemente, conflita com a ternura. De um lado estão o carinho e a paciência (além do desejo, claro) necessários para fazer andar uma relação que a gente quer que avance. Do outro, estão o erotismo e o egoísmo das relações paralelas, que existem com a finalidade quase exclusiva de nos dar prazer instantâneo. Quando você sintoniza num desses canais, fica difícil captar o que se passa no outro. E vice-versa.
Há histórias que confirmam esse ponto de vista.
Lembro de um amigo que vivia há um ano com uma moça encantadora quando se meteu numa paixão impossível com uma mulher casada. Ele não foi pego e nem a mulher foi descoberta, mas a incandescência do caso esvaziou emocionalmente o casamento dele. Antes que ele percebesse, a mulher por quem ele era apaixonado tinha arrumado as malas e ido embora, daquele jeito que as mulheres fazem – de forma definitiva, e sem olhar para trás. Nem precisa dizer que desejo pela outra morreu na mesma semana.
Tenho uma amiga que estava se preparando para engravidar quando descobriu que o marido estava saindo com uma colega de trabalho. Ela não era particularmente ciumenta e os dois tinham uma relação de grande autonomia pessoal, mas, quando o sujeito começou a desmoronar na frente dela, por causa da outra – no momento em que se preparavam para ter um filho – o orgulho falou mais alto. Ela bateu em retirada, embora fosse louca por ele. Cada um seguiu a sua vida. “Em outro momento, eu teria relevado”, ela me disse. “Mas, naquele momento, foi definitivo. Ele escolheu a hora errada para fazer o que fez.”
A hora errada ou a hora certa não me parecem estar marcadas no calendário. Trata-se de momentos emocionais. Se você está repleto de ternura tentando engravidar a mulher que ama, não dá para entrar em combustão com outra pessoa. As duas coisas não combinam.
Acho que há um limite para a qualidade dos sentimentos que somos capazes de oferecer simultaneamente a outros seres humanos. Depois de passar a tarde fazendo sexo e trocando confidências num motel, com que espécie de emoção você se aproxima da mulher por quem está apaixonado? Não acredito que o tênue material de que são feitas as relações afetivas resista a esse tipo de estresse. As cordas que ligam as pessoas arrebentam.
Mas há momentos tranquilos dos namoros ou dos casamentos em que isso pode ser diferente. Nessas horas, uma terceira pessoa pode passar sem ser notada, e sem provocar alvoroço em quem se envolve com ela. São momentos em que as partes do casal estão menos voltadas uma para a outra – por causa do trabalho, da escola ou dos filhos. Se uma das partes desviar do caminho, o outro pode nem notar. Ou nem ligar. A pessoa que saiu zanzando por aí tampouco vai perder a sintonia com quem ama.
É como na história dos três porquinhos. Se você tem um namoro ou um casamento sólido, ele não vai desabar ao primeiro sopro do Lobo Mau. O mesmo não se pode dizer das relações em construção. Ou daquelas que acabam de enfrentar uma crise. Nessas circunstâncias, é melhor evitar os lobos. E lobas.