O primeiro me chegou como quem vem do florista. E eu, virgem Teresinha, cedi. Ah, a tática do presentinho… Uma flor, um bombom, um óleo corporal. Como se houvesse alguma coisa no mundo com o superpoder de tornar a primeira vez um momento um pouco menos desagradável. Doce ilusão. Sinto lhe informar, cara pálida, mas não há presente que adiante: colar de diamantes, feriado prolongado em Punta Cana na companhia do Malvino Salvador, discografia do Chico Buarque. Talvez um litro de aguardente ou colinho de mãe surtam algum efeito, mas todo mundo há de concordar que transar pela primeira vez não é nada fácil.
Assim como aprender a andar de bicicleta. Assim como terminar a leitura do primeiro livro. Assim como cozinhar o primeiro arroz e feijão da vida. Tarefas básicas e relativamente simples, mas que ficam infinitamente melhores e mais prazerosas depois de certo tempo de prática. Prática essa que implica em tombos, sílabas trocadas e fundos de panela queimados. Mas quem foi mesmo que disse que as melhores fragrâncias estão nos frascos mais fáceis de abrir? Que eu me lembre, ninguém. Às vezes, o dedo cortado no rompimento do lacre não é absolutamente nada perto do sabor delicioso do sorvete.*
Muito estardalhaço se faz ao redor da primeira vez. As revistas adolescentes dão dicas tão furadas quanto meia de mendigo da Praça da Sé. Os pais tapam os olhos e os ouvidos na iminência de perder a filhinha ingênua para os prazeres indiscutíveis do sexo. A sociedade sempre julgará a escolha de transar como precipitada ou atrasada demais. As escolas ministram palestras na tentativa de tornar didático algo que, na verdade, não se aprende na teoria. Porque por mais que você leia 50 tons de cinza, 50 posições do Kama Sutra ou 50 dicas de cavalgada, seu desempenho na primeira vez será patético – aprenda a lidar com isso. E é justamente aí que está a inesquecibilidade da primeira vez.
É um misto de desespero com vontade. De medo com curiosidade. De vergonha com permissividade. É ruim, mas deliciosamente bom. Ver um pau duro tão desnudo, tão sem vergonha, tão entregue, tão seu, enfim, tão duro pela primeira vez na vida é algo, no mínimo, transcendente. É descobrir o poder que se tem de erguer castelos com a própria mão (ou a própria boca). É conhecer a peça do quebra-cabeça imperfeitamente moldada para encaixar, ainda que dolorosamente num primeiro momento, no vácuo feminino mais íntimo. É finalmente estar de frente a um ensaio amador do processo de criação do universo. É, de fato, muita complexidade para a adolescência.
Por isso é que o melhor sexo, ouvi dizer, se faz na maturidade, uma fase que eu, particularmente, ainda não conheço. E olha que já gozei rios e já fiz gozarem mares. Mas como bom e eterno aprendizado, a evolução sexual de todo e qualquer ser humano vem com a prática. E nessa escola, não há quem não se empenhe pra tirar nota A. Como já nos ensinaram Chico Buarque e Elza Soares, no auge de suas maturidades, “leões ao léu, sob o céu, fazem. Ursos lambuzando-se no mel fazem. Façamos, vamos amar”. Eu, se fosse você, daria ouvidos às vozes da experiência.
*Que isso não sirva de analogia para eventuais argumentos machistas que condenam as mulheres que cedem na primeira noite.