Todo mundo já ouviu ao menos uma história de gente que se envolveu com alguém comprometido e sabia disso. Mesmo não sendo uma situação socialmente muito bem aceita, acontece com frequência – e nem por isso deixa de ser polêmica. Afinal, traição sempre gera discussões acaloradas: em geral, quem traiu é sempre o desonesto e merece sofrer, enquanto quem foi traído é injustiçado e deveria se vingar. Mas e o terceiro elemento? Qual a parcela de culpa da pessoa com quem a traição foi cometida? O que o julgamento moral diz sobre ele?
À primeira vista – porém só à primeira vista – parece óbvio que todo mundo prefira se relacionar com gente solteira. Temos a impressão superficial de que ninguém quer ser pivô da separação de casal algum. Se ela viu primeiro, que seja feliz com ele, não é mesmo? Não. As ruas estão cheias de gente que tem verdadeiro fascínio por pessoas comprometidas. Para esses homens e mulheres, ser a terceira pessoa dentro de um relacionamento é quase um esporte e, claro, não causa remorso ou arrependimento algum. Para eles, o motivo de terem se envolvido com alguém comprometido é justamente o tesão que essa condição proibida proporciona.
Mas nem sempre o terceiro elemento consente com a traição. Existem aqueles que não sabem de nada. Esse tipo de gente costuma surgir naquelas histórias de traição em que um dos membros do casal ficou com alguém em uma festa, sem a menor pretensão de ter nada sério. Esses são capazes de serem protagonistas de uma traição completa, voltarem para casa e continuarem a vida sem sequer saberem que se tornaram vilões ou destruidores de lares. Aí, no dia seguinte, às vezes sem a menor pretensão, apenas na tentativa de ser bacana, o “terceiro elemento” manda um SMS. É quando a coisa muda de cor, porque a tentação provavelmente vai fazer o traidor querer continuar o contato. A tendência é que, mais cedo ou mais tarde, fique claro ao terceiro elemento que se trata de uma traição, e não de um novo e promissor romance. E aí a consciência dele também é colocada em cheque.
Uma outra categoria de terceiro elemento também merece atenção: o amante que quer se tornar titular. É aquele tipo de pessoa que aceita ser “o outro” e vive pedindo para que o traidor termine com a pessoa com quem mantém um relacionamento ~sério~. Esses também não se sentem nem um pouco arrependidos, mas ao contrário dos que saem com pessoas comprometidas por diversão, sofrem constantemente por se sentirem sempre a segunda opção ou objetos de desejo que não são dignos de receberem amor de verdade.
Analisando todos os casos acima, chego a uma conclusão engraçada: independente de com que tipo de terceiro elemento você se envolva, o único fator comum de todas as histórias é ninguém menos do que você. Portanto, traidor, assuma a sua parcela de culpa. O traidor é condenado por todo mundo simplesmente porque, independentemente de qual foi a tentação, ele poderia ter evitado, negado, se colocado no lugar de quem é traído e pulado fora. E aí, por sua vez, ele culpa o terceiro elemento: foi ela quem se ofereceu para me ajudar a estudar para a prova de cálculo, foi ele quem insistiu em me dar aquela carona maliciosa até a faculdade. É verdade que muitas vezes o terceiro elemento não se importa em causar sofrimento em alguém em nome de um prazer particular – principalmente quando ele não conhece o traído da história. Mas mesmo assim, a crítica nunca pode ser atribuída inteiramente ao amante: eles oferecem, mas é papel da pessoa comprometida resistir à tentação.
É por isso que quando o traidor é descoberto a pior coisa que ele pode fazer é tentar se isentar e jogar no amante toda a responsabilidade. Porque quem dá desculpas como “eu traí porque ela me seduziu”, ou “eu fiquei com aquele cara porque não soube como dizer ‘não’” é, no mínimo, covarde. E ninguém quer dar uma segunda chance a alguém assim.