Ultimamente, vendo a mudança de vida de tantos amigos com quem convivo há anos, tenho avaliado o quanto mudamos quando estamos próximos dos 30 anos.
Gostávamos de cachorro e dizíamos que teríamos um depois de casar ou ter filhos e, eis que de repente, você não consegue mais pensar na ideia. Sonhávamos com um casamento na igreja, cheio de pompas e todo o glamour que a ocasião pede e, ao pensar seriamente na ideia, decidimos por comemorar essa data especial intimamente e com o pé na areia. Desejávamos uma carreira cheia de promoções e, quem sabe um dia, chegar ao topo como o Big Boss, e nos deparamos com o desejo, agora bem diferente, de sair correndo atrás dos sonhos “mais loucos” de fazer uma faculdade de psicologia, escrever um livro ou abrir um albergue. Dávamos valor à quantidade de amigos, porque, afinal de contas, quanto mais pessoas melhor, não é?! E, de repente, nos encontramos vivendo a lei natural da seleção, que nunca entendíamos e que agora nos faz tanto sentido. Trocamos o preto básico pelo colorido jovem, o belo do salto alto pelo conforto das sapatilhas, o dormir até tarde pelo acordar cedo e aproveitar o dia, o barulho divertido pelo silêncio aconchegante.
Enfim, trocamos, mudamos, crescemos e – o mais importante – nos encontramos. Nos encontramos porque ao chegar próximo dos 30 nos obrigamos a refletir sobre o que queremos dali pra frente. E dessa vez de verdade. Não dá mais pra brincar de ter 18 aninhos. Pela primeira vez paramos para analisar quem somos, o que fazemos do nosso dia a dia, pra onde estamos indo e como estamos indo. A pergunta “somos felizes e realizados?” nos acompanha e, na maioria das vezes, não temos a resposta. Confrontamos aquela criança e adolescente que um dia existiram, cheio de sonhos e planos para o futuro adulto que se tornariam, e perguntamos a eles: “esta tudo como você imaginou?”.
Então, a grande mudança se inicia. Todos os itens que citei acima acontecem não porque fazemos 30, mas porque nos encontramos, talvez somente aos 30, com uma pessoa que até então conhecíamos pouco: nós mesmos. E assim, paramos de seguir a moda ou o grupo de amigos, e nos identificamos. Confirmamos que odiamos salto, que os brincos grandes não combinam com a nossa personalidade, que amamos relógios, que odiamos nosso emprego. Nos questionamos e confrontamos, pois não temos mais tempo a perder, e se algo deve ser mudado ou não, precisa começar ou se confirmar dentro de nós. E com todo esse questionamento, descobrimos coisas que nos fazem mal e praticamos o tempo todo, e outras que nos fazem tão bem e nunca aproveitamos. Descobrimos um universo que, em parte, já estava dentro de nós e, em parte, conhecemos durante a nossa jornada, com os encontros e situações aos quais nos deparamos. Mas o que realmente importa nessa nova fase – se assim posso chamá-la – é que deixamos de fazer aquilo que a sociedade nos impõe como certo, aquilo que ouvimos desde criança que deveria ser seguido, e passamos a ouvir nosso coração, nossas verdadeiras vontades e anseios, e nos tornamos nós mesmos, com nossos gostos, crenças e desejos. Com nossa própria personalidade, enfim.
Perceba a quantidade de pessoas que te dizem aos 30 – ou próximo dele – o quanto você esta mais bonita, alegre, descontraída, segura e por aí vai. E mais: as pessoas que conseguem identificar em alguma situação ou vendo um objeto que aquilo é, como dizemos, “a sua cara”. E vamos combinar? Nós nos sentimos assim também. Tem sensação mais agradável que se sentir de bem com quem mais importa: você? E respeitar o que essa pessoa tão importante quer de verdade da vida?
Estou passando por isso nesse momento. Os 29 me alcançaram. E pude acompanhar muitas amigas que já tiveram esse encontro. Escrevendo esse texto, lembrei o quanto as vejo mulheres mais bonitas e interessantes hoje, depois que elas se confrontaram, se encontraram e tomaram decisões que pareciam loucura – mas que, na verdade, foi exatamente o que as fez felizes e realizadas de verdade. Tenho orgulho delas e de todas as pessoas que têm a coragem de fazer diferente. Porque, no fundo, a conclusão é que não são os 30 que nos mudam, e sim a vontade latente que temos de construir um mundo onde o robótico e o igual são feios, e a verdade e a diferença são belas.