Arnaldo, o homem pode ser delicado em alguns momentos? Não ria da minha pergunta! Pode ou não pode? Sem medo eu digo que sim. E falo mais: acho que todo e qualquer homem existente na galáxia, seja o Chuck Norris ou até o Zé Mayer, em certos momentos, precisa ter atitudes movidas pela tal delicadeza.
Sei que, neste instante, muitos machões estão rindo do meu primeiro parágrafo. E não irei culpá-los pelo falso julgamento – a sociedade os ensinou assim. Homem não chora, homem não sente, homem não hesita. Esse é o preço que se paga pela testosterona. E é por isso que vocês riem de mim: porque são como a maioria dos homens comuns em território nacional, portadores de pinto que confundem a delicadeza com a frouxidão. Mas são coisas diferentes, meu caro. Muito diferentes, por sinal.
Esta confusão toda me parece muito arcaica. Pré-histórica, eu ousaria dizer. Provavelmente, começou com algum bravo caçador de mamutes que, certa vez, para atrair uma bela dama das cavernas, demonstrou um bocado de força. Ela, por sua vez, ficou impressionada com a potência do caçador e logo trepou com ele, sobre um colchão formado por pedras. O caçador, depois da transa, correu para a caverna mais próxima e pediu a atenção de todos, enquanto na parede da caverna desenhava alguns símbolos que significavam: “homem forte penetra”. Dali em diante, os homens continuaram transmitindo a máxima dita pelo sábio caçador garanhão. O símbolo desenhado na pedra foi mostrado e passado de pai – e de mãe – para filho. Meninas gostam de meninos fortes emocional e fisicamente, disseram as más línguas. O ensino se perpetuou de geração em geração. Assim, o mundo foi tomado por homens que aprenderam o poder da força, mas que foram privados de conhecer o poder de uma delicadeza.
Não questiono o ensinamento do sábio caçador – em partes, ele estava certo. Pena que o coitado se esqueceu de dizer que a força é um atributo valorizado por mulheres somente em certas ocasiões. Quando elas buscam proteção, por exemplo. Ou quando elas, sozinhas, não conseguem abrir um vidro de azeitonas. Ou quando o carro atola num lamaçal sem fim. Em casos como esses, é prudente que o homem não seja delicado ou ofereça uma “mãozinha de alface”. Mas e no resto da vida, hein? Nem tudo é conquistado à base de força. Duvida? Mesmo, amigo? Então deve ser por isso que você nunca conseguiu fazer sexo anal com sua mulher. Para os seus amigos, você diz que ela não aguenta o tamanho da sua piroca. Mas ela só mede 14 cm. Pequena não é, mas convenhamos que você está longe de ser um ícone da “pirocagem”. Pode ser que o problema seja o emprego da força em hora errada, irmão. Experimente usar a delicadeza nesta noite. Tenho certeza de que amanhã me agradecerá e que ela, sua linda mulher, até considerará a ideia de repetir a brincadeira pela porta dos fundos.
E se você acha que a delicadeza é necessária apenas na hora de encaixar seu convexo no côncavo dela, é aí que você se engana novamente. As sutilezas têm um poder inacreditável. Seja delicado no jantar, enquanto faz uma massagem no ponto exato que faz sua mulher relaxar. Dome sua força para não destroncar o pescoço dela, como você tem feito todos os dias. Seja delicado também quando ela lhe pedir para subir o zíper do vestido – ela o agradecerá por não tê-lo rasgado antes da festa. Seja delicado também com as palavras e tire o peso desnecessário de certas frases. A mesma coisa, dita com delicadeza, pode impedir que termine a noite no sofá ou na punheta. Seja delicado na hora certa, no beijo, por exemplo. Certamente ela quer sentir sua língua acariciando suavemente a dela, e não uma lesma desgovernada dançando trance dentro da boca dela, entendeu?
Em suma, não tenha medo da sua delicadeza. Muito menos tente excluí-la de seu dicionário. Ser homem não é sinônimo de ser ogro – pelo menos não deveria ser. Aprenda a ser delicado nos momentos certos, como contraponto da sua pegada já forte. Confia em mim, cara. Mais vale um Chico Buarque na mão do que dois Chuck Norris voando.