Toda vez que algum amigo me diz euforicamente que está stalkeando alguém, sinto uma pontinha de deprê, seguida de uma vontade súbita de dar tapas na cara da pessoa gritando “acorda! acordaaa!”. Mas me contenho em dizer “hmm, legal. Boa sorte.”, porque perder tempo explicando para essas pessoas que bancar o espião da vida alheia é ridículo é como explicar para gente viciada em cirurgias plásticas que ela era mais bonita quando estava com sua aparência natural.
Ninguém gosta da sensação de ser seguido. Nem de carro, nem a pé, nem de pedalinho, nem de jeito nenhum. É fato, ser perseguido por um estranho não é legal. Sim, estamos falando de gente doida que persegue outras pessoas, porque “stalk”, em inglês, significa “perseguir”. Se você treme ao perceber que alguém está te seguindo na rua, seja para te assaltar, pra te estuprar, pra te vender balas ou perguntar as horas, por que é que te parece ok perseguir e bisbilhotar a vida de alguém na internet?
O stalker sempre vai ter um motivo muito nobre – na opinião dele – para bisbilhotar a vida alheia, mas a verdade é que não há nobreza alguma nessas motivações. Tem gente que se apaixona por alguém e fica seguindo cada passo virtual da pessoa. Quer saber do que a pessoa gosta, aonde ela vai, quem são seus amigos, que músicas ouve e, de repente, sem querer, descobre que essa pessoa já tem alguém, que está feliz e indisponível. É nessa hora que começa uma das incoerências mais marcantes da vida de um stalker: autoflagelação. Em vez de simplesmente desencanar e partir para um novo amor, o stalker continua seguindo não só a pessoa por quem ele se apaixonou, como também seu parceiro, constatando a felicidade do casal e sofrendo calado na frente de um computador, desejando a infelicidade alheia.
Tem outro tipo de stalker, muito comum (e tão maluco quanto o anterior), que é o desconfiado. A pessoa já está com quem quer, mas não adianta ter o amor. Quer ter a senha do celular, a senha do Facebook, a senha do banco. E fica o tempo todo checando todos esses meios atrás de evidências de não-amor. É tão importante assim se certificar de que não se é amado? A pessoa fica paranoica, inventa mil crises, melodramas e ceninhas para justificar que tem direito de ver tudo o que o outro faz porque eles são um casal. Mas na palavra casal, há uma sutileza que por vezes passa despercebida pelos paranoicos: ele é composto por duas pessoas diferentes, com passados diferentes e com hábitos diferentes que devem ser respeitados. Sim, estamos falando de casais, e não de gêmeos siameses.
No fim, o que todo stalker não percebe é que, na busca por informações, por se sentir próximo e participante da vida de alguém, acaba se esquecendo de que pessoas precisam de contato físico e relações reais. Você nunca vai conseguir ficar com quem você gosta se passa mais tempo stalkeando a pessoa do que saindo com ela. Não existe amor que resista a tantas dúvidas a ponto de não existir o menor senso de privacidade no casal e, ainda assim, existir desconfiança. Se você duvida do seu parceiro(a), é mais sensato conversar, tentar recuperar a relação e voltar a ser feliz, do que perder tempo com brigas inúteis para ter certeza de que, sim, ele tem outra; sim, ela está te traindo; sim, ele não gosta mais de você; sim, ela está a fim de outra pessoa.
Portanto, aqui vai o meu recado final: querido stalker, não perca tempo tentando vigiar a vida de alguém. Não passe horas e horas dos seus preciosos dias lendo todos os posts de alguém, venerando fotos e comemorando a cada curtir inocente que a pessoa te der. Vá viver – a vida é curta. Apareça na vida do cara com o seu melhor sorriso, surpreenda a garota com uma boa conversa, com bom humor e um pouco de sanidade mental. Porque perseguir pessoas é coisa de gente insegura, e você não ganha nada com isso além de sofrimento e frustração. Afinal, você ficaria com alguém que te persegue na rua? Pense nisso.