Para começo de conversa, um pedido de desculpa direcionado a qualquer estilista, estudante de moda ou entusiasta desse mundo que possa se sentir ofendido ao encruzilhar-se nessa encruzilhada de palavras, meandros e teses de bar. Tenho noção que milhões de reais, pesos, dólares e euros já foram investidos para criar o sutiã irresistível, a meia sete-oitavos perfeita, a cinta-liga que não deixa nenhum homem desligar, mas, pra mim, a verdade é uma só: nada deixa uma mulher mais sensual do que uma calcinha simples e a minha camiseta.
Vamos por partes: imprescindível dizer, antes de qualquer outro argumento, que esse conjunto é fisicamente benéfico para o sexo oposto. Em um guarda-roupa onde quase tudo é apertado e sufoca, a camiseta permite movimento e graciosidade e, de quebra, esquenta.
Essa combinação também é prova cabal, registrada em cartório e reconhecida em firma de que nós, homens, somos o sexo frágil – e bota frágil nisso. O ridículo que passamos com uma simples escolha errada na hora de se vestir é inversamente proporcional ao charme que uma garota denota à qualquer camisa, incluindo a minha edição 1999/2000 do Corinthians, da época que o Edílson ainda batia embaixadinha e eu só batia a cabeça na parede, querendo entender porque as meninas da escola não olhavam pra mim. Uma garota com uma camiseta e calcinha equivale a colocar um disco do Al Green, um do Marvin Gaye e outro do Barry White pra tocar no mesmo ambiente, ao mesmo tempo.
Mas de nada adiantaria a minha camiseta no corpo dela se não fosse a calcinha. Calça jeans, minissaia, shorts, legging. Diversas são as opções de peça de baixo. Eu? Eu fico com a calcinha. Aquela simplezinha, de algodão mesmo. É que tão importante quanto a sedução implícita é o charme explícito. Se para Vinicius de Moraes era necessário uma hipótese de barriguinha, eu sou a favor de uma hipótese de bunda – não no geral, mas escapando da camiseta, como quem diz “estou aqui, agora não estou, agora estou de novo” a cada passo, cada virada, cada ficada na ponta dos pés para alcançar um filme na prateleira (ah, as prateleiras altas…). É nesse caso que a calcinha se faz primordial: ela segura, levanta, molda e deixa ainda melhor o que, por definição, é uma das coisas mais bonitas do mundo.
Por isso, aqui vai um apelo cheio de carinho e de preocupação com o bem-estar de vocês: libertem-se do salto-alto, mulheres da minha vida – e da vida dos outros, e da vida como um todo. Na hora da intimidade, rasguem a meia-calça sem pensar duas vezes. Joguem a fantasia de colegial pro alto. Esqueçam o sutiã que mais parece um cofre para ser destravado e lembrem-se de que o espartilho, que por vezes deixa até a alma sem respirar, pode aumentar a sua autoestima, mas jamais substituirá a atitude e a simplicidade de uma camiseta masculina. A arma final da sedução está mais perto do que vocês imaginam, e com um bônus único: o cheiro de vocês fica conosco.