O amor é uma revolução.
Caminhando pela Francisco Matarazzo, vi isso grafitado em um muro, contrastando com o elevado, o céu prateado paulistano, o shopping e alguns tantos moradores de rua que pareciam estar ali e não estar ao mesmo tempo, como se de outra dimensão eles pudessem nos ver sem serem notados. Invisíveis. A frase ecoou na minha cabeça feito música ruim com efeito reflexivo.
Após um ano dito revolucionário, em que tantas pessoas se disseram “acordadas” e dispostas a ir às ruas sem nem mesmo entender o porquê, depois do silêncio fica o eco: onde foi parar a revolução? E onde está o amor? Eu sinceramente sinto um nó na garganta por não saber dizer qual dos dois parece mais perdido enquanto conceito de prioridade humana.
Amor, palavra banalizada e fora de moda, antiquada, tom pastel. E não digo apenas o amor substanciado. Não só esse que você sente pelo seu namorado, seu marido, seu peguete ou mesmo pelo Ricardão escondido debaixo da sua cama. Digo o amor em seu sentido amplo da vida, de olhar o outro com amor até que esse se reflita em você mesmo. E mesmo pelo sentido mais atualmente banal, amar parece que não é mais algo de bom tom. Se você diz que ama, você é estranho, tá fora do contexto moderno em que tudo e todos foram objetificados em prol do status de ser mais interessante parecer imune a um sentimento tão feio.
Se você pensa em dizer que ama, pensa antes mil vezes pra não se expor ao ridículo. Mas não é ridículo tratar o outro com desdém, colocá-lo numa outra dimensão e torná-lo invisível. Não é ridículo maldizer e apedrejar o próximo, mas é ridículo dizer algo amável, é terrível cultivar um sentimento tão underground. Você pode trair o outro, expor, denegrir, agredir. Pode seguir a maré. Mas amar? Ah, amar é brega. Não é ridículo eu estar sentada no chão de um trem cheio escrevendo isso em meio a tantas pessoas que mereciam ao menos uma volta tranquila, segura e minimamente confortável pra casa após um longo dia em busca de [sobre] viver. Não é ridículo acreditarmos que houve alguma revolução se nem ao menos conseguimos enxergar um conceito tão simples de um sentimento tão nosso que é esse de amar. E daí eu me pergunto: a revolução começa de dentro pra fora, ou de fora pra dentro? Interessante seria a revolução do amor se tornar reflexão antes de você pular sete ondas, comer romã, dar tapinhas e felicitações nas costas de quem durante o ano você esfaqueou e principalmente, antes de fazer aquelas promessas de um ano melhor.
Porque o amor é o caminho para um ano melhor.