Antes, achava que o amor, necessariamente, precisava acontecer logo de cara e que, com o tempo, as chances de ele nascer só diminuiriam. Pensava: “caso eu não comece a amar à primeira ou, no máximo, à quinta vista, com certeza, não a amarei”. E, raciocinando dessa maneira e subestimando o potencial surpreendente dos sentimentos, por muitas vezes, não dei a devida chance para o surgimento daquilo que, hoje, se em algum momento do passado não tivesse sido barrado pelo meu excesso de expectativas, poderia ter adquirido cor e até, quem sabe, lugar VIP no camarote do meu coração.
“Ela não é a mulher ideal para mim”, pensava, antes mesmo de dar uma oportunidade para que a moça me provasse o quanto eu, baseado apenas em desconhecimentos, criava hipóteses totalmente sem fundamento. “Nunca daremos certo”, eu dizia, como se pudesse prever o futuro, para que ela, aquela com quem eu havia jantado apenas uma vez, não voltasse a me procurar.
Proclamava frases como essas, pois achava que, algum dia, em alguma esquina, bateria os olhos em alguma guria e, abruptamente, como num passe de mágica, identificaria a mulher da minha vida. Achava que aconteceria como nas comédias românticas e que bastaria um esbarrão para que eu percebesse que estava diante daquela com quem dividiria as dores da velhice e o medo de partir dessa para sei lá qual.
Muitas vezes, baseava-me em coisas pequeníssimas para justificar as minhas grandes e precoces decisões. “Não vai dar certo porque ela não viu nenhum filme do Woody Allen”, pensava, antes de descartá-la. “Não sei, cara, ela tem uma barriguinha”, justificava ao sábio amigo que, inteligentemente, sugeriu que eu mantivesse a porta aberta.
E assim, sem ao menos conhecê-las, neguei-as. À espera de uma mulher que, desde o primeiro encontro, parecesse perfeita, não dei chance para que o amor, aos poucos, regado pela crescente intimidade e pelo aprimoramento da convivência, fizesse-se vistoso e sólido.
Hoje, por experiência própria, eu digo: “quase nunca acontece como nos filmes!”. Percebi que para deixarmos o amor surgir, em muitos casos, precisamos dar tempo e chances para que o outro mostre o quanto está disposto a se adaptar e a relevar as nossas imperfeições. E, meus caros, posso afirmar que não existe nada mais bonito do que perceber que, para ficar perto de nós, o outro aprendeu a aceitar e até a admirar as nossas imperfeições. O amor, muitas vezes, surge de uma soma de situações cotidianas. Não entendeu? É simples: o amor é fruto das vezes que o pegou, com cara de bobo, velando seu sono, somadas as vezes que ele, claramente, sofreu quando viu o termômetro afirmando que você estava com febre, multiplicadas as vezes que ele, para não correr o risco de lhe perder, calou-se diante uma palavra que, facilmente, poderia ter iniciado uma guerra mundial. Entendeu agora?
“Quanto mais tempo eu passo com você, mais tempo quero passar ao seu lado”, foi o que escrevi no bilhete que colei na geladeira dela, antes de partir. Escrevi isso, pois percebi que o tempo, apesar de não curar, como dizem por aí, nos dá a chance de dar ao outro, através de atitudes, bons argumentos para que ele nos queira ali, fincado dentro do peito.
Assim como acontece com a massa de um bolo que parece incapaz de inchar, o amor também pode, quando menos esperamos, crescer e até, nos melhores casos, transbordar da nossa forma. Porém, para que exista a mínima possibilidade disso acontecer, precisamos tomar cuidado para não podá-lo antes mesmo que ele comece a dar as caras.
Mais uma coisa: saiba que obrigar alguém a nos amar é impossível, mas que dar bons motivos para que isso aconteça é algo perfeitamente cabível a nós e capaz de, com certezas, encher corações indecisos.