Ela era do tipo que, se soubesse usar todo o potencial “gostosônico” que possuía, com certeza, teria sido capaz de fazer com que o mais experiente guru do sexo tântrico gozasse, precocemente, na cueca. Arrisco dizer que a maioria dos homens, nas horas que precedem o encontro com ela, com medo de ejacular antes mesmo das preliminares, costuma bater, no mínimo, duas punhetinhas para garantir. Foi o que eu fiz no dia em que a sorte gargalhou para mim e que ela, sem fazer suspense, disse “sim” ao meu convite cheio de segundas, terceiras, quartas e todas as intenções.
Eu a esperei no carro, ansiosamente, por mais de quarenta minutos. Mas valeu a pena. Pois ela surgiu usando um vestido capaz de provocar engarrafamentos, feriados e torcicolos. E, não contente por ter deixado as esculturais pernas à mostra, ela havia esquecido, propositalmente, o sutiã. No caminho até o restaurante, pela lateral do vestido, por algumas vezes, eu quase avistei os mamilos dela. Quase os vi e, também, quase atropelei uma simpática senhora. Por isso, resolvi parar de tentar “mamilar” e concentrei-me no ato de dirigir.
No restaurante, tudo correu perfeitamente. Joguei algumas iscas de duplo sentido e ela, sem rodeios, mordeu. Assim como fez com meu pescoço e com o lóbulo da minha orelha, antes de sugerir que pedíssemos a conta e que fôssemos direto para algum lugar com mais privacidade, se é que você me entende. Eu entendi não esperei nem o troco e, quando notei, já estava entregando meu documento à atendente de um motel. Escolhi a Suíte Presidencial, afinal, achava que estava prestes a conhecer as artimanhas de uma faixa preta na arte da trepada.
Só de olhar para ela, imaginava-a fazendo inesperadas acrobacias sexuais e me dando uma surra libidinosa daquelas que nos tornam incapazes de saber se estamos próximos a um enfarte ou se é apenas um retumbante orgasmo que está por vir. Confesso que, baseado nos critérios errados, apostei todas as minhas fichas nela.
Tudo parecia perfeito até que, após alguns passos quarto adentro, ela se transformou em um zumbi. Já viu o filme “Um Morto Muito Louco”? Então, mesmo sem ser adepto da necrofilia, senti-me transando com um defunto. Ela não se mexia. Ela não se esforçava. Ela se tornou apenas um buraco sem vida. Agiu, displicentemente, como se toda aquela “gostusura” fosse capaz de suprir qualquer necessidade de ação. Até um robô demonstraria mais malemolência e atuaria de forma menos passiva.
A principio, enquanto penetrava naquela estátua real que, vez ou outra, dizia frases nitidamente roubadas de algum pornô barato, cheguei a achar que ela estava sob o efeito de “Boa Noite, Cinderela”. Ou que ela tivesse sido picada por uma mosca tsé-tsé. Porém, alguns minutos depois de ela ter gozado, ou fingido, sei lá, eu entendi tudo. Ela levantou e ficou por mais de dez minutos posando para o espelho e me fazendo perguntas com o objetivo de, como respostas, receber confetes verbais. “Acha que estou gorda?”, questionou-me. “Acha que eu preciso engrossar mais as coxas?”, perguntou-me com cara de vítima. E eu, para não cair naquele joguinho de egos, sem inflá-la da maneira que ela ansiava, não disse nada e entrei no chuveiro com o cigarro ainda na boca.
Sei que, neste exato momento, muitos estão pensando que eu joguei a culpa toda nela e que estou me ausentando da zona de responsabilidade. Juro que não. Em outros fracassos, sem medo, eu assumi minha parcela relevante de culpa. Entretanto, com essa boneca inflável real, eu fiz o meu melhor. Enquanto ela achava que as curvas imóveis bastariam para que eu sentisse borbulhas de tesão, eu, sem poupar esforços, suei a camisa para ver se ela reagia e se, de uma vez por todas, perdia o medo de desarrumar o cabelo. Mas não adiantou. Depois, ela ainda me ligou algumas vezes, mas eu preferi optar por aquelas, nem sempre tão gostosas, porém capazes de entender que o sexo, de verdade, precisa de iniciativa das duas partes. Ou das três, no caso de um ménage. Ou das dez, no caso de uma suruba. Independente de quantos estão envolvidos na atividade sexual, todos precisam gastar energias e se esforçar. Até os que desempenham o papel de passivo. E, quando falo de esforço, não me refiro apenas ao físico, falo de toda e qualquer atitude capaz de fazer com que a coexistência dos parceiros resulte naquilo que faz os olhos virarem e as pernas amolecerem.
É claro que fatores superficiais como a boa aparência influenciam na geração do prazer, porém, até mesmo a maior das belezas, para funcionar sexualmente, precisa de atitude. Se não necessitasse, aquelas bonecas de boca sempre escancarada e aparência extremamente realista roubariam o lugar de muita gente. Mas não roubam, pois o mundo está cheio de gente que já descobriu como transformar o corpo, não necessariamente perfeito, em uma máquina de excitar.
E sabe o pior? Seres que, literalmente, não movem um pauzinho para que o sexo seja bom, depois da tragédia, saem por aí difamando o parceiro e espalhando, para o mundo todo, calúnias destrutivas.
Apesar de eu ter citado o exemplo de uma mulher que transou como uma lesma idosa, muitos homens também agem dessa maneira e se equivocam ao achar que os bíceps torneados e os abdomens definidos são suficientes para levar uma mulher à loucura. Quer um exemplo real disso? Uma amiga me contou que a pior decepção da vida dela foi ter transado com o cara mais gato que ela conheceu. Como pode? Simples: ela disse que o bonitão passou noventa por cento da transa se admirando no espelho e que, nos outros dez por cento, ele fez caras e bocas bem parecidas com aquelas que o Oliver fazia no Teste de Fidelidade. Aí não dá, né? Aí a perereca que busca a felicidade em úmidos terrenos, quando passa por isso, automaticamente, sente-se atirada em meio ao árido Deserto do Atacama. Ela secou na hora e ele, nem depois de gozar, parou de secar o próprio reflexo. Minha amiga me contou esse episódio com ar fúnebre e eu, sem saber o que dizer para consolá-la, apenas falei: “Não se importe com homens que batem punheta olhando a própria bunda no espelho!”.
Por isso, meu caro, para dar prazer a ela, de nada adiantará se valer somente da carga que coloca no supino e dos lindos olhos verdes que a genética lhe deu, pois, se não aliá-los a estímulos convincentes e a um esforço efetivo, na cama, você será infinitamente menos útil do que um vibrador. Ou do que o vizinho bem disposto que, apesar da barriguinha de chope e do princípio de calvície, só está aguardando uma brechinha mostrar a ela que com um só pau, apesar de não se fazer uma canoa, é possível criar um rio inteiro de prazer.
Por essas e outras que, quanto mais tempo passa, mais eu admiro as “Mulheres Kinder Ovo”. Não as conhece? São aquelas que, independente da porcentagem de gordura corporal, do tamanho do sutiã e do potencial causador de colisões no trânsito, na Hora H, revelam-se surpreendentes e, graças à vontade de somar esforços em prol do prazer mútuo, ensinam, na prática, que quem vê cara não vê tesão.