Onde está sua cabeça quando você faz sexo? Na pessoa dividindo com você esse momento ou perdida entre pensamentos e fantasias? Para que o sexo seja completo, pleno, extasiante, mais do que dar e receber prazer, é preciso ser capaz de se conectar, de fundir, não só foder, os corpos e as almas.
Chegar ao orgasmo não basta. Sem uma ligação autêntica nesse instante, o sexo vira apenas uma masturbação a dois, uma punheta com uma buceta de bônus, uma siririca com um vibrador humano. E o gozo não passa de um reflexo a um estímulo repetitivo, sem vida.
As pessoas andam tão centradas em si mesmas, tão preocupadas com o próprio prazer que, às vezes, não é fácil perceber que tem mais alguém ali naquela cama, que a trepada vai além do reflexo no espelho. O outro acaba se transformando em mais um objeto de prazer, um brinquedinho em 6D para a satisfação individual, um mero facilitador de orgasmo (espero que isso não vire moda).
O excesso de umbiguismo e a era “selfie” não são os únicos culpados ou responsáveis por esse comportamento. Muitas vezes a pessoa nem percebe que está desconectada, tamanha a incapacidade que tem de criar uma verdadeira e profunda intimidade, de viver plenamente o momento presente e também de se entregar sem medo.
Falo desses sentimentos por experiência própria. Meu dedo não está apontado somente para você, também está sendo esfregado na minha cara. Lembro bem de uma vez em que estava transando bem gostoso com um cara, porém completamente fechada em mim mesma. Atento como ele era, logo percebeu e chamou a minha atenção dizendo: “olha pra mim, quero que você olhe fundo nos meus olhos”.
Quando isso acontece, fica difícil fugir. É como se uma corrente elétrica de 220 volts voltasse a funcionar subitamente, conectando os dois corpos no tranco. O sexo deixa de ser um mergulho solo para se tornar uma coreografia de nado sincronizado.
As fantasias e os estímulos externos são saudáveis. Longe de mim, que adoro uma boa putaria, defender o contrário. Porém, na hora do clímax, do sexo para valer, muda tudo quando os parceiros estão conectados. Esse wi-fi sexual permite uma experiência muito mais prazerosa e completa. Sem isso, fazer sexo acaba sendo somente o ato de se masturbar acompanhado. Pode ser bom também, claro, mas duvido que chegue perto de excelente.
Ler os sinais do outro, descobrir aquela pessoa e dançar no mesmo ritmo que ela não é nada simples, porém eleva o sexo a um outro patamar, transforma uma trepada corriqueira em um tango com Al Pacino.