• Amor não precisa de testemunha (e como a neura  para casar pode destruir sua relação)
  • Amor não precisa de testemunha (e como a neura


    para casar pode destruir sua relação)


    Dia desses, jantando com alguns amigos, percebi que algumas pessoas simplesmente não aceitam a possibilidade de não se casarem. Claro que cada um tem o direito de ter os desejos e sonhos que quiser, mas percebi que talvez, e só talvez, casar não seja mesmo grande coisa. Não é algo essencial. Para quem é admirador ferrenho do casamento tradicional isso pode soar ofensivo ou leviano, mas posso explicar meu ponto de vista e se ao final desse texto nada mudar na sua opinião, vá em frente e esforce-se para subir no altar assim como manda o protocolo e seja feliz, de verdade, sem ironia ou sarcasmo. Enfim, aqui vai a minha visão, humilde, sobre o que está acontecendo com essas pessoas aficionadas por véu, grinalda, chuva de arroz, tapetes vermelhos e cerimônias clássicas: você está deixando a felicidade passar! Desculpe, mas se você é daquelas pessoas que pressiona o parceiro para marcar uma data, é isso aí que está acontecendo. Sua felicidade está ficando pelo caminho.

    O ciclo de evolução dos relacionamentos iniciantes geralmente começa no primeiro encontro, planejado ou não, passa por uns dois ou três pós encontros, vai pra fase do “nós estamos saindo”, evolui, depois de ao menos um par de semanas vai para “estamos ficando” e depois, quando tudo começa a dar certo, entra na longa e dourada época do “a gente namora!”. Aí, para aqueles que estão mirando firmemente no casamento, a montanha russa entra numa queda livre sem fim. Porque para eles a história tem que continuar evoluindo, o próximo passo TEM QUE SER o noivado, e alguns meses depois, fatalmente, o casamento. Mas espera aí! Isso tudo, já na época da minha avó, era conhecido apenas como “rótulo”, “título”, “estado civil”, para os formais. Essas coisas de ficar, namorar, noivar, casar, sair, e todos os outros nomes que indicam relação entre duas pessoas são só “status do relacionamento” e mais nada. Não sei vocês, mas eu entro em relacionamentos para me sentir feliz, não para evoluir de nível, igual a um lutador que busca a faixa preta, ou um gamer que não dorme antes de passar de fase.

    Eu entro em um relacionamento porque acredito nele, porque meu parceiro, ou parceira, me completa, me faz alguém melhor, me ajuda, me suporta, me compreende e evolui comigo. Estar em um relacionamento é algo estreitamente ligado ao desejo de ser feliz, trocar experiências, fazer alguém feliz e se sentir realizado com isso. O pessoal que leu o livro ou que assistiu “A Culpa é das Estrelas” no cinema sabe bem disso. Até gente que está morrendo, nas últimas, quer um relacionamento simplesmente porque ama o outro. É natural que em alguns momentos nos sintamos meio inseguros, ninguém é de ferro, e esses rótulos nos passam uma falsa segurança. Mas lembre-se, é só falsa… seguro mesmo, nesse mundo maluco que é a vida a dois, ninguém está. Então se o melhor de estar junto é, basicamente, ESTAR junto, porque tanta gente ainda se preocupa com casamento? Honestamente, acho que os motivos são tantos que não caberia em um texto só. Não dá para saber se foi a criação que essas pessoas receberam, se é religião, se é sonho de infância, se é aposta com o pessoal do bar, mas nada disso importa porque cada um cuida dos próprios assuntos como quer. O que realmente importa é: esse pessoal está deixando de ser feliz num namoro estável enquanto sonha com um casamento no futuro.

    Por que não se pode simplesmente aproveitar a maravilha que é viver a dois independentemente de nomenclaturas ou títulos? Para mim parece tão óbvio que o amor que eu sinto pela minha namorada não vai mudar só porque ela não quer se casar comigo, ou vice e versa. Tem gente que entra em depressões sérias, classifica como “crise no relacionamento” e não consegue entender quando o outro diz, honestamente, que está feliz com a relação do jeito que está. Você pode ser namorado para sempre e ser tão, ou mais feliz, do que seus pais, que são casados há dezenas de anos. Você pode viver sem papel passado, sem véu e grinalda, sem padre ou pastor, sem nada disso, e mesmo assim ter filhos, morar na mesma casa, constituir uma família, desenhar uma história, ter grandes memórias e viver como você sempre quis. Forçar os outros a enfrentar uma maratona burocrática – e caríssima – em torno de uma cerimônia que não muda nada na prática é crueldade misturada com uma boa dose de burrice. Dá pra acabar com um namoro lindo entrando nessa neura de casamento a qualquer custo.

    E quero deixar bem claro que não estou levantando uma bandeira contra o casamento ou incentivando pessoas a não se casarem. Não quero influenciar os sonhos de ninguém, mas peço, de coração, que caso esse seja seu caso, que você não deixe de viver a sua vida plenamente com o seu parceiro ou parceira esperando o dia de casar para ser feliz. Do mesmo jeito que não se pode deixar o amor congelado esperando o dia de dizer “sim” na igreja, você também não pode obrigar ninguém a viver sua fantasia de relação ideal. Casamento é só casamento, o que vale mesmo ao redor disso tudo é o sentimento que se tem, as experiências da convivência cotidiana, o grau de doação de um pelo outro e a coragem de enfrentar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os desafios que a vida traz, seja lá qual for a situação oficial de vocês. Sejam felizes agora, hoje, já e não esperem por nada no mundo para amarem com toda intensidade a pessoa que está com você. No fundo, o sonho de todo casal casado oficialmente, é conseguir, ao longo dos anos, permanecer como dois eternos namorados.


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