Não sei dançar. Não sei mesmo dançar. Não é um simples caso de “dois pés esquerdos”. São mãos nos lugares dos pés. É uma falta de ritmo, falta de sincronia, falta de sensibilidade. Quando eu danço é um show. De horrores.
Me acostumei a não dançar. Me habituei a ser a pessoa que fica sentada na cadeira mexendo o ombrinho. E nem mexer demais não podia, senão já começaria a levantar suspeitas aquela ligeira desconexão entre o movimento dos meus ombros e o ritmo da música.
Um dia um cara chegou até a minha cadeira e me estendeu a mão. Falei que não dançava. Ele aceitou minha recusa, mas pegou outra cadeira e sentou do meu lado. Puxou papo e eu entrei na conversa dele. Era um cara legal. Me fez rir, me fez gargalhar, me fez cantar e me fez chorar.
Quando dei por mim fazia dois anos que estávamos sentados naquelas cadeiras. Ele se levantou e resolveu tentar de novo.
“Dança comigo?”
Me levantei e dancei. Eu continuava péssima, mas isso não me importava mais. Com ele eu não tinha medo de expor a minha fraqueza mais sensível, o meu segredo mais bem guardado.
Depois que a música parou de tocar, olhei para ele, nervosa. Será que reparou que eu não sei dançar? Claro que sim. Mas disse que era lindo de se ver. Que ele adorava minha falta de controle, minha ausência total de sincronia, meus passos descompassados, minha incapacidade de bater palma na hora certa. Minha maior vergonha era para ele uma das coisas que ele mais gostava em mim.
Hoje amo dançar com esse cara. Não importa se é em uma festa cheia de gente ou sozinhos no quarto de porta trancada. Ele tira meus pés do chão e me faz rodopiar vacilante ao lado dele. Com ele eu não tenho medo de parecer ridícula. Na verdade, eu descobri que uma das coisas mais divertidas era ser ridícula ao lado dele e que nessas horas eu me sentia mais eu mesma do que em qualquer momento de sensatez.
Não sou nenhuma conselheira de relacionamentos, longe disso, aliás, mas se eu pudesse dar um conselho sobre amor seria esse: procure alguém que te faça dançar ( e substitua aqui o “dançar” por qualquer outra coisa que você tem vergonha de fazer). Porque amor de verdade é quando o outro nos conhece profundamente, e gosta da gente mesmo assim.