Aponte-me alguém que diz não querer ser amado e terá encontrado um péssimo mentiroso. Ainda que a vida não se resuma – ainda bem! – a encontrar e depender de alguém, amor é fundamental – especialmente se estivermos falando daquele amor que mistura amizade, companheirismo, diversão e (muito) sexo. Ainda que pareça simples amar e ser amado, porém, parece-me cada vez mais difícil fugir de um costume muito prejudicial: desvalorizar aquilo que durou pouco.
Talvez pela cultura romântica do amor eterno, da tampa da panela e das metades da laranja (beijo, Fábio Júnior!), nos acostumamos a acreditar que existe apenas uma pessoa destinada a nos fazer feliz. Bombardeados por letras melosas, livros água com açúcar e contos de fadas, tomamos como verdade a fábula do “era para ser”. Com isso em mente, então, descartamos aquilo que “não foi”. Ao fazer isso, nos esquecemos de algo óbvio: nas histórias que lemos e assistimos, paramos de acompanhar o que acontece com o casal de pombinhos assim que chegamos à última página – ou assim que os créditos começam a subir.
E se a princesa não se deu por satisfeita com aquele príncipe que pareceu ser a última Coca-Cola do deserto mas, passado algum tempo, mostrou-se um belo porre? E se, quando as luzes da sala se acenderam e todo mundo se encaminhou para a saída, ligando seus celulares e procurando sinal de internet, o mocinho viu que a mocinha não era bem aquilo que ele queria?
Nem sempre as coisas dão certo – e isso é completamente normal. A vida, felizmente, não é ficção. Fosse assim, viveríamos todos o mesmo roteiro – e, de tanto ver a mesma história se repetir, estaríamos fadados a uma vida previsível e entediante. Além de desdenhar de relações que começaram cheias de “amor da minha vida” e terminaram repletos de “pior que privada entupida”, acabamos virando a cara para os amores que passam voando diante dos nossos olhos.
Gosto de pensar nessas experiências como peças de um quebra-cabeça amoroso, montado por todos nós no decorrer da vida. Toda vez que nos apaixonamos, afinal de contas, entramos em contato com um lado profundo dos nossos sentimentos: é no auge da paixão que fica claro quais são nossos defeitos e qualidades na hora de lidar com o outro. Tem gente que se sente pesada de ciúmes, insegurança e medo. Outras pessoas encontram, na paixão, a mais leve plenitude. Por mais breve que uma relação possa ser, ela traz novas percepções sobre quem você é – percepções que não seriam tão fáceis de enxergar sozinhos. É essa uma das coisas mais incríveis sobre se envolver com outra pessoa: ganhar mais autoconhecimento.
Não olhe para seus amores breves com desdém. Saiba que eles te trouxeram maturidade, experiência e sabedoria. É muito mais bonito lembrar de cada uma dessas pessoas pensando que a história que vocês viveram te deixou mais pronto para aquilo que estava por vir. Amar alguém, independente de tempo, sempre é lucrativo – e como ninguém nasce sabendo quais passos dar na vida gosto de pensar que, quanto mais andamos nesse grande tabuleiro do amor, mais sabemos onde queremos chegar.