• Quem quer, arruma um jeito
  • Quem quer, arruma um jeito


    “Eu até quero, Má, mas estamos em timings muito diferentes”, o Pinóquio disse à minha amiga, antes de evaporar, de pular em direção ao galho da solteirice.

    “Timings muito diferentes”? Sério que alguém ainda tem coragem de mandar essa ladainha? Jura mesmo que tem gente acreditando nisso por aí? Porque, para mim, isso não passa de uma enorme desculpa, de papinho mais furado do que bunda de moçoila viciada em Coca-Cola. Por quê? Porque a vida me mostrou que o ser humano, quando realmente deseja alguma coisa – seja ficar perto de alguém, seja aprender a tocar Stairway to Heaven na guitarra -, dá um jeitinho; faz miséria para transformar muralhas aparentemente intransponíveis em muretinhas facilmente ultrapassáveis.

    Enquanto as pessoas que não estão verdadeiramente a fim vivem a cuspir subterfúgios como “nossos timings são incompatíveis”, “eu moro muito longe de você” e “temos objetivos de vida muito diferentes”, os que realmente querem estar com alguém procuram formas de fazer com que a relação aconteça. E as encontram, acredite.

    Quer um exemplo? Tenho um amigo que passou cerca de três anos viajando mais de setecentos quilômetros por semana. Por quê? Porque essa foi a maneira que ele achou para fazer com que o namoro dele desse certo, oras. E deu! O considerável investimento em gasolina, em pedágio e em coxinhas de posto de gasolina certamente não foi em vão: logo o casal fará bodas de qualquer coisa. E isso, acredite se quiser, aconteceu no mesmo planeta em que já ouvi gente afirmando que precisou terminar uma relação por causa de cem quilômetros (distância entre Campinas e São Paulo). Dá para acreditar? Desculpa, mas eu não consigo. Não mesmo. Fale-me de alienígenas disfarçados de blogueiros hipsters, mas, por favor, não me diga que você terminou uma relação para dedicar mais tempo aos estudos ou que precisou escolher entre ele e o seu emprego. Você terminou, principalmente, porque não tinha mais vontade de estar com ele, admita! O resto é papo de Agostinha Carrara, blábláblá que você inventou para enganá-lo – e se autoenganar.

    Quando há vontade verdadeira, minha cara, poucas são as distâncias, sogras pentelhas, exigências profissionais, ex-namoradas psicopatas e divergências de crenças capazes de inviabilizar uma relação. O oposto também pode ser dito, ou seja, quando não há vontade – ou quando ela se perde em meio à monotonia da rotina -, qualquer mínima discordância – até mesmo as que ocorrem no campo minado da política e do futebol – já se parece uma irrefutável razão para dizermos “Não tem mais jeito. Acabou, boa sorte…”. Estou errado?

    Sabe aquele cara que vive a dizer que está morrendo de saudade, mas que nunca – nem mesmo em feriado prolongado! – consegue se encontrar com você? Sabe? A verdade é que ele NÃO está a fim de você, sorry pela sinceridade. Ou acha que o paspalho, se realmente estivesse a fim da sua boca, já não teria arrumado um jeito de passar um tempo – nem que apenas uns minutinhos – ao seu lado? Claro que sim, mulher. Ele disse que não passou aí por causa do trabalho? Desculpa furada detected! Alerta Vermelho! Quem realmente quer, descobre uma maneira de fazer acontecer, repito. Que maneira? Dorme menos, descola um falso atestado de conjuntivite, acorda mais cedo, rouba um helicóptero, inventa ameaça de bomba para evacuar o escritório, manda fazer um clone e por aí vai… Tendeu?

    O Caio Fernando de Abreu estava certíssimo quando disse: “Quem quer, arruma um jeito. Quem não quer, arruma uma desculpa.”

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