No vai e vem do balanço da vida, acho que a gente só precisa fechar os olhos num final de dia doído e turbulento qualquer e ter a certeza de que ali do outro lado existe um mundo em forma de parceria para te reorientar. Uma bússola, um norte, um abrigo, um sossego para chamar de seu. Alguém que independente do que o resto do mundo grita lá fora, te coloca no colo e te prova nas linhas e entrelinhas de cada recorte do cotidiano que o correr da vida não precisa ser encarado sozinho. Uma metade confiante e permanente que não desiste de você.
Por isso escolha alguém que decide caminhar ao seu lado mesmo que o tempo e a distância te levem para outro lugar ou o sorriso sincero no resto demorar a desabrochar. Ainda que a TPM seja sórdida e recorrente cheias daquelas crises repentinas de choro sem motivo aparente. Alguém que simplesmente fica, mesmo que aquela fase difícil na faculdade esteja postergando mais do que o esperado ou o estresse no trabalho esteja consumindo cada segundo dos tão esperados momentos a sós. É preciso estabilidade, mais do que zelo e cuidado, para se conseguir desatar um nó.
Escolha alguém que não saia pela porta ao menor sinal de desordem ou incompatibilidade. Que entenda que existem momentos para se bradar e minutos para se calar e nem sempre a ordem dos dois será respeitada. Opte pela mulher que permaneceu imbatível e resoluta ao seu lado mesmo quando você estava confuso sobre quais caminhos trilharia na sua travessia, e pelo cara que pacientemente aguardou a sua chance no banquinho da espera enquanto você ia ali do outro lado da rua experimentar as dores e mágoas dos caras errados. Alguém que firma presença nas dúvidas, nos desconfortos, nos abalos sísmicos emocionais e levanta a bandeira do “eu estou aqui para o que der e vier”, porque é disso que o amor é feito. De gente que fica apesar de um monte de motivos para ir embora.
Caminhe ao lado de alguém que não liga para o seu bad hair day, sua unha mal feita, seu pijama largado e sua calcinha bege vovó. Dê as mãos para o outro que desgrenha os cabelos, coloca a cueca de super herói que sua tia deu no último aniversário e transforma em tumulto a sua ordem, simplesmente para a sua bagunça se encaixar melhor na dele. Escolha a parceria que resistiu às intrigas do mundo e te segurou nos braços todas as vezes que você caiu, por irresponsabilidade ou imaturidade, e reergueu seu amor próprio mesmo quando você duvidava que ele ainda existia.
Entre tanta gente que não sabe se vai ou se fica, que fica parada no vão da porta esperando por um sinal milagroso do universo para decidir se vale a pena ou não arriscar, no meio de tanta gente covarde, preguiçosa, descartável, que ao menor sinal de descompasso decide partir para uma pegada mais fácil, valorize quem leva seu mundo num abraço por livre arbítrio. O amor que se materializa na presença que independe da melhor receptividade que se pode oferecer. Porque todo mundo tem seu dia de fúria, de irritabilidade, de solidão, de questionamento, de não saber que caminho percorrer. E dependendo da etapa da vida são fases de desmoronamento que podem durar semanas ou até meses. Acontece que quando o amor te dá motivos para pular do barco, quando a relação não está no seu melhor momento, é justamente aí que se deve buscar forças para manter a embarcação em movimento.
Tem gente que não precisa dizer uma palavra para demonstrar que não desistiu da gente, do nós, do relacionamento como um todo. Esse tipo de pessoa sabe que nem tudo serão flores, que vai chover, vai trovejar, que o universo pode desabar do lado de fora da janela, mas ela está ali impenetrável do lado esquerdo da cama, apenas esperando a calmaria depois da tormenta. Porque na grande maioria das vezes ela vem. Com cheiro de orvalho, café da manhã quentinho, e aconchego de quem a gente tanto quer bem.
Então, o mais importante, não desista de alguém que não desistiu de você. É disso que o universo das parcerias tanto precisa: de gente que fica quando o resto do mundo foi embora. Seja a exceção onde a regra vem sendo ingrata. Seja uma doce e singela permanência, numa sociedade em que sair pela porta é muito mais fácil do que respirar fundo, fechar as janelas, e esperar o furacão passar. Pois ele passa, e o que fica é o amor, a cumplicidade, a intimidade de quem conhece a gente por inteiro, nossas instabilidades e inconstâncias, e não apenas a nossa melhor versão mascarada e moldada de blush. Porque parecer perfeito é fácil, difícil é esbarrar em alguém capaz de manter a força do abraço mesmo depois que a primeira chuva enxugar todos os disfarces.