Acho bastante necessária a noção de que a gente não pode se relacionar por comodidade, porque amor importa. Houve um tempo em que essa opção não existia e ainda existem sociedades em que relacionamentos arranjados são predominantes – vide as sociedades orientais. Benza Deus que a gente se livrou disso. Pena – sorte do diabo, talvez – que a gente saiu das correntes que prendiam esse amor gostoso direto pra ideia de que só amor basta e that’s it. Mas não.
Essa ideia bonita que a gente tem de que amor é o único sentimento necessário para todo tipo de relacionamento é bastante utópica. Ele pode ser base, afinal de contas, você nunca conseguiria suportar pelo tempo que for alguém que não ama. Você não conseguiria dar as mãos, tomar sorvete, deitar ao lado depois do sexo, ficar olhando com cara de bobo e dedicar as músicas todas do Spotify pra alguém que só é “legal”. Nah. Amor é aquele sentimento que você já conhece e sabe muito bem as sensações que te dá. O problema é que “importar” é diferente de “bastar”.
Imagine você um relacionamento sem outras coisas básicas – vou chutar aqui, por exemplo, confiança, atração física, companheirismo, lealdade, apoio emocional e tal. Dá pra imaginar? Não. Não dá. Porque a conta não fecha. Você não consegue ir pra frente sem um misto de coisas importantes, sem outras coisas que vão estruturando a casa. Se amor fosse material, ele seria as vigas e os apoios de base. O resto é parede, vai dando forma. E como faz pra morar em casa sem teto quando chove? Não faz, só molha, só chora.
A frustração vem exatamente daí: da gente não reconhecer a importância do resto. Nós batemos a cabeça na parede e não resolve, mas como? Tá ali, tô vendo que tem amor, tô vendo que a gente se gosta pra caramba, mas não dá certo. E toma-lhe conta de terapia pra entender uma coisa simples: amor é o carro, não combustível. O máximo que pode acontecer é impulsionar atitudes positivas em prol do desenvolvimento benéfico do relacionamento. Mas tem que ter esforço pra caramba. Amor faz com que esse esforço seja natural, eu diria que é exatamente igual ao nosso coração – simbologia supimpa a nossa: sem ele não rola, mas sem o resto dos órgãos também não, o corpo acusa mau funcionamento.
E o que acontece com relacionamento que não tem esforço de ambas as partes pra construir os outros sentimentos necessários? Isso mesmo, ele se torna cômodo. Por mais que exista amor, ele entra numa linha de produção que repete a mesma coisa todos os dias. E você já não sente mais vontade de ligar pra pessoa, mas sabe que ama. Você não confia mais no outro, mas tem amor, porra. Você simplesmente não consegue mais tirar a roupa pro gajo ou pra guria, mas jura amor eterno. A vida seria mais fácil e mais bonita se só amor bastasse. Mas infelizmente não é assim, e digo isso com uma angústia enorme no peito por reconhecer e aceitar: só amor não basta.