• Quantos amores da sua vida você já deixou passar?
  • Quantos amores da sua vida você já deixou passar?


    Pode ser aquela menina de mochila estampada em pé no ônibus – e que desceu um ponto antes de você. Pode ser aquele cara de suéter azul que estava na sua frente na fila do supermercado – e que foi embora enquanto você se perdia no número do seu CPF pra receber a tal da nota fiscal paulista. Pode ser aquele menino de cabelo enroladinho que atendeu você naquela farmácia da cidadezinha da sua avó – e que continuou lá, enquanto você viajou centenas de quilômetros pra voltar pra casa. Pode ser aquela moça de saia florida que, dia sim, outro não, passava no sentido oposto ao seu a caminho do trabalho – mas que parou de passar faz umas duas semanas. Talvez tenha encontrado um emprego melhor. Talvez tenha sido demitida. Talvez tenha ido fazer intercâmbio. Talvez tenha sido realocada para outra unidade da empresa. Talvez tenha morrido na contramão atrapalhando o tráfego.

    A questão é que, a menos que você experimente, nunca vai saber quem é o amor da sua vida. Porque, assim como você, ele é uma pessoa comum. Pode até ser um astro de Hollywood, mas continua sendo uma pessoa comum. Que tem seus horários, seus destinos, seus compromissos – chatos e legais. Seus desatinos, seus motivos pra lá de pertinentes para estar de mau humor e nem querer olhar pro lado justo no dia em que vocês se esbarraram na rua. Suas glórias, suas razões mais do que justas para colocar uma música no último volume e cantarolar alegremente, como se no mundo não existisse mais nada nem ninguém. Seus livros para ler, suas conversas de Whatsapp para responder enquanto perde porções de vida parado no trânsito dentro do ônibus.

    Acima de tudo, o amor da sua vida é uma pessoa que não sabe que é o amor da sua vida e a quem, num primeiro momento, você também não reconhece como alguém especial. Porque essa pessoa não vem com um letreiro na testa dizendo “é comigo que você vai querer passar o resto da sua vida”. Ou com uma seta sobre a cabeça, indicando que é a tampa da sua panela.

    E ainda bem que não é assim.

    Eu, particularmente, tenho pavor só de pensar na possibilidade de ter me casado com o primeiro menino por quem eu me apaixonei, sem sequer ter experimentado mais nada nessa vida. Em reproduzir a história da minha avó e do meu avô. Que é lindíssima – a primeira vez que os dois se viram foi há mais ou menos 65 anos, através de um reflexo no espelho, e eles estão juntos até hoje – mas que simplesmente não funciona pra mim. Talvez funcione pra cinema, literatura, dramaturgia. Mas não pra mim. Porque sou do pensamento de que amor é tentativa e erro.

    É por isso que a gente vê tanta gente decepcionada por aí. Porque a vida girou a roleta e, nessa rodada, uma galera deu azar. E na próxima, provavelmente, vai dar azar de novo. E na outra. E na outra. Até que, um dia, dá sorte. Dá match. Dá certo. E só dá certo, em grande parte, porque aprendemos a calibrar as nossas expectativas e a dosar nossos comportamentos em todas as rodadas de azar anteriores. Ok, há uma pitada de sorte no “dar certo” – afinal, encontrar alguém não babaca nos dias de hoje não é tarefa simples. Mas é preciso admitir que o medo de errar mais uma vez faz com que estejamos mais empenhados e prontos para acertar. É o que já dizia a minha avó: muitas vezes, minha filha, o erro é o pai dos acertos.

    E é por isso que, antes de desistir, tente mais uma vez. Só mais uma. Porque aquele cara que se sentou ao seu lado no ônibus bem na manhã em que você decretou que nunca mais ia se apaixonar por ninguém pode ser o amor da sua vida.

    bruna


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