É um filme do Woody Allen, uma música do Caetano, um enigma do Sherlock. É tudo que a gente não entende direito, mas se deixa fascinar. A perfeição não tem nada a ver com beleza. Pra disfarçar, mostro a janela da alma, larga e explícita, como tudo na mente dele parece ser, banhado em amor, poesia e MPB. Admito: sorrio toda a vez que os traços da sua face me vem à mente. É tão libertador que jamais conseguiria conter.
É o sol, indo e vindo, ás vezes fazendo a pirraça de se esconder entre as nuvens. Eu deixo estar, porque naquele colo não há maldade, não há a sujeira do mundo e até aquela dorzinha da solidão se vai com um afago nos cabelos. Ah, menino, se você soubesse que meu freio de mão está puxado e mesmo assim não tenho conseguido ir devagar, me deixaria passar a eternidade nesse teu sofá de dois lugares em que a gente se ajeita tão bem.
É o cheiro de praia naqueles cabelos, um pouco de pele salgada, um pouco de frio no calor e um calor enorme nas noites de inverno. Pode ser que a maré vire, que o barco afunde, que o relógio do mar marque a hora de dizer um tchau suave e doloroso, mas quem se importa? Não consigo pensar no depois e apenas me deixo ficar, inerte naquele cheiro, no vai e vem das ondas, na prancha cravada na areia. A felicidade existe e esta aqui, bem dentro de mim a cada vez que o vejo sorrindo na minha direção.
Abre o armário, deixa eu colocar um jeans velho e um moletom no canto da prateleira. Deixei uma escova no banheiro e fiquei alegre que você nem reclamou. Me chamou e disse naquele tom meloso “vem cá, pequena”. Eu fui e pretendo nunca mais ir embora. Fecha a janela, vem desarrumar a cama comigo. Coloca Strokes, ou Gadú, escolhe. Pra mim, tanto faz, minha poesia são seus sussurros.
Eu vou chegar no fim do dia, com comida de microondas e vinho. Espero que você não tenha sumido, queria te contar do meu dia, do pequeno desentendimento no trabalho e do perrengue na faculdade. Eu sei, eu nem te deixo falar ás vezes e você não dá importância – obrigada por ser assim. Aliás, obrigada! Á você, aos céus, ao destino, ao acaso, a vida, a tudo que conspirou pra eu te encontrar. Feliz e completa eu sempre fui, mas fascinada, fora de órbita e transbordando amor, foi só depois que você segurou a minha mão. Até tentei evitar, mas seria inútil. Já disse e vou repetir: é tão libertador que jamais conseguiria conter.