Talvez o maior desafio dos casais contemporâneos seja ocasionado por seu anseio por romances de filmes. E não me refiro apenas às comédias românticas e contos de fadas. As pessoas querem viver também aventuras, ações, erotismo e ficções. Inspiram-se em charmosas histórias surreais para elaborar pares e relacionamentos perfeitos.
Criam listas mentais com todos os atributos essenciais ao pretendente ideal. Imaginam tanto que até conseguem descrever com detalhes alguém que sequer já viram. Ou, para facilitar a busca, modificam traços das feições do galã da novela das nove e se dão por satisfeitas com o resultado.
Muitos, após uma desilusão amorosa, prendem-se à padrões de beleza impostos pela mídia, pelo capitalismo exacerbado e à atitude desumana de sua paixão platônica como justificativas para o que aconteceu. No entanto, por pura ironia, escolheram a dedo o cara com que iriam se relacionar. Algo como “um homem mais velho, maduro, com um nariz milimetricamente perfeito, barba, cabelos levemente grisalhos, corpo em forma e frequentador de academia”.
Mas, para sua surpresa, o cara ideal idealizado não te considera a mulher ideal que idealizou para si. E assim você leva um pé na bunda.
Outros querem alguém para “viver novas experiências e aventuras todos os dias”. Desejam que todos os domingos sejam ensolarados, divertidos e cheios de programações. Até que se deparam com um domingo chuvoso, em casa, sem energia, e o relacionamento não tem forças para seguir em frente. Mas como exigir tanta ação e aventura na rotina quando não se permite sequer descobrir se o sentimento é verdadeiro e se são capazes ao menos de sobreviver a um único dia de tédio?
Tem gente que procura um “alguém que me entenda”, mas o companheiro não pode torcer para um time de futebol diferente, gostar mais de gato que de cachorro ou preferir comida mineira à sushi. Irão sempre ao jogo do Flamengo, terão três cachorros e nenhum gato e jantarão toda semana num restaurante japonês.
Também tem aqueles que começam a sair ou namorar com uma pessoa que gosta de usar roupas excêntricas. Até aí tudo bem, estão satisfeitos e felizes. Mas depois de uma ou duas críticas maldosas de amigos e parentes, começam a cobrar do companheiro que “se vista melhor”. E se isso não acontecer, já não andam mais de mãos dadas pelas ruas e não sentem orgulho de seus parceiros. Então, cedo ou tarde, a relação vai se tornar insustentável.
E talvez a solução seja mais simples do que parece. A questão pode ser apenas de libertar a sua própria mente de pré-conceitos, críticas excessivas e idealizações. De se permitir conhecer alguém sem tentar imaginá-lo ou moldá-lo com antecedência. De fechar os ouvidos às opiniões dos outros – se ele é magro, gordo, alto, baixo, feio ou bonito demais para você – afinal, é a sua opinião que realmente vale. De procurar alguém que tenha gostos e opiniões parecidos com os seus, assim será muito mais fácil respeitar as preferências do outro. E dar-se ao luxo de viver tanto os dias agitados de passeios e multidões, quanto os dias preguiçosos de filminho com pipoca, só vocês dois.
A melhor relação é aquela que não segue roteiros. Porque, finalmente, é real.