Passeia no meu corpo. Ri das minhas piadas velhas. Me ama desse teu jeito sujo – eu aceito, eu quero. Compra aquele vinho e depois reclama do meu excesso. Fala no meu ouvido o quanto eu sou gostosa, o quanto o inverno é melhor do meu lado, agarra meu quadril e fala que gosta do tato, da pele. Mata a minha saudade com teu suor, me embriaga da tua saliva, me entorpece no teu cheiro.
Passeia no meu corpo, me dá tua mão pra andar de bicicleta, foge comigo pra praia sem ninguém perceber. Me dá um pouco desse teu drinque, não reclama tanto do meu cigarro, repara no meu cabelo que eu não cortei, repara nas minhas unhas bem pintadas, ri do meu jeito tão feminino que contrasta com a minha voz rouca.
Fala de novo sobre o solo da guitarra do cara da banda da TV, diz que meu gosto musical é um lixo com grandes exceções, fala dos livros que você tem lido pra me impressionar e de tudo que não nos interessa que a gente verbaliza pra passar o tempo. Me apresenta os detalhes desse teu universo que eu já me sinto parte, deixa eu te mostrar o meu aos pouquinhos.
Passeia no meu corpo, coloca a ponta dos dedos no meu rosto e faz aquela cara de algo que eu não faço idéia de como descrever. Foge das minhas cócegas e fica brabo de verdade com a minha insistência, faz piada dos meus assuntos sérios pra eu me irritar, dissolve tudo isso com os lábios no meu pescoço.
Tenta ponderar minhas noites enquanto eu perco o controle dos dias, me abraça enquanto dorme sem nem perceber enquanto meu coração quase foge pela boca e corre a maratona igual a um queniano. Me aconchega na tua preguiça, me abraça quando eu choro, do jeito mais clichê do mundo e diz que a vida é isso mesmo e uma hora eu vou ter que me acostumar com as dores. Me busca na aula, fala que eu ainda tenho muito o que aprender, diz que eu sou foda quando eu falo do que eu entendo. Me deixa ser a amante, a amiga, a mulher e a menina num espaço de 24 horas.
Passeia no meu corpo, bebe comigo essa caipirinha que eu fiz pra nós, me beija perguntando o que é que eu tenho que sempre te faz voltar. Me acha ridícula dançando, eu faço graça só pra ganhar esse sorriso largo e lerdo. Usa do teu toque pra me ler, usa do teu faro pra me achar, usa do teu charme pra me ter. Vem como quem não quer nada, eu fico.
Vem fazer parte de mim.