Eu achei que tinha certeza porque logo que meus olhos encontraram os dele a minha respiração parou por um segundo. O coração decidiu que começaria ali uma maratona, os braços ficaram meio desengonçados, como quando a gente não sabe o que fazer com a fragilidade, e o sorriso saiu meio torto, nada do que foi ensaiado na frente do espelho para o momento “encontrei o amor da minha vida”. Foi estranho, totalmente constrangedor e meu corpo parecia que tinha vida própria. Hormônios, calafrios, a música que parecia um sinal do universo tocando no fundo, ansiedade, medo. O amor havia se disfarçado de paixão. Aquilo que vira todos os nossos sentimentos do avesso e fica à espreita, apenas observando o que restou de pé depois do inesperado vendaval.
Alguns encontros depois eu sabia, mas sabia de verdade. O sorriso dele fazia a minha alma sorrir também. O café na cama, as conversas divertidas e ainda um pouco tímidas de quem não se conhece muito a fundo, as mãos que sempre se procuravam, e a vontade cada vez maior de conhecer aquele mundo enigmático que me convidava delicadamente para fazer parte dele não me deixavam mentir. Era amor, só podia ser. O melhor som em meses era o apito do Whatsapp me avisando de alguma nova mensagem, os passeios eram sempre surpreendentes, e a química parecia não enjoar nunca do tato do outro. Mas aí descobri que isso era só novidade, o nome daquilo que ganha outro significado depois que se conhece a rotina.
Me acostumei tanto, que um dia sem a presença dele, física ou não, era um dia simplesmente perdido. Comecei a ter ciúmes das amigas que nem conhecia, a ficar invocada quando os finais de semana não eram mais só meus, e a me entristecer por tão pouco, que qualquer passo fora da linha que eu havia ilusoriamente traçado era motivo de consternação e claro, de tecer inúmeras caraminholas na cabeça. Se isso não era amor, não era mais nada. Se esquecer da própria individualidade em prol de alguém deveria ser a maior prova de devoção que se pode oferecer para o outro. Mas não, isso era só carência, o sentimento que cega muito antes de se perder o olhar.
Verões, invernos, outonos e milhares de primaveras depois, eu ainda não sabia justificar a imensidão do que sentia por ele. Toda vez que parecia amor, eu compreendia que tinha algo muito além por trás. Então, como saber? Como se certificar absoluta e irrevogavelmente de que dentre todos os caminhos que se apresentavam naquele timing este era sim aquele o que tinha mais entrega? Como não confundir o brilho nos olhos, a saudade, o desejo, a expectativa, com algo que necessariamente é muito maior do que qualquer definição? Eu digo que só descobri que era amor de um jeito: quando eu permaneci.
Naquele momento que tudo parece desmoronar, que os ventos não conspiram a favor, quando surge aquele boato maldoso de quem não gosta de ver a felicidade do outro ganhando asas, e mesmo assim a gente não se deixa abalar por quem não conhece as nossas verdades, é o amor dizendo que aqui ele encontrou abrigo. Quando a admiração pede licença, o respeito abre passagem e o ego desce do seu pedestal soberano, também é o amor, garantindo que cada resquício de parceria seja dotado de merecimento.
Esta história não é a minha, só que pode ser a sua. Se apesar dos pesares você balançou e não caiu, acredite, muito possivelmente você está enamorada. Agora fala baixinho que é para ninguém ficar sabendo. O amor odeia certezas, ele prefere passar despercebido. É que a gente tem uma mania feia de se descuidar quando se sabe. Então deixa assim como está menina, você está sentindo, suas veias estão pulsando, e a sua travessia está em paz. Se ele achar que deve, vai preencher as suas desconfianças. Caso contrário, ele vai ser presença mais do que uma mera resposta a uma pergunta casual. Por isso fica. Se ele também ficar você sabe: não, não é amor, é só a confirmação que você precisava para se permitir viver o sentimento. Agora vive. E ama.