Olha, eu tenho uma coisa para te falar. Acho melhor você sentar. De repente vale a pena até deitar. No chão. Porque do chão você não passa. Vou falar de uma vez só. Puxar esse band-aid logo.
Esse cara nunca vai ser seu.
E antes que você pergunte, não é “nunca” querendo dizer “não agora, mas daqui a alguns meses quem sabe…”. É o nunca da eternidade negativa. Aquele “nunca” pesado mesmo. Ai você balança a cabeça e sorrindo, diz que entendeu. Então eu devo estar falando daquele “nunca” que vocês vão seguir suas vidas, vão se reencontrar em vinte anos, recém-separados de outras pessoas e, finalmente, vão ficar juntos. É esse?
Não. É aquele em que a sua vida continua, com o tempo você vai envelhecer, eventualmente, vai morrer e esse cara nunca vai ter sido seu.
Você começa a chorar (é um bom sinal, significa que você entendeu de verdade) e me pergunta: “mas por quê?”. Porque ele não gosta de você. “mas por quê, não?!” você insiste. Eu não sei. Eu queria saber, queria poder te dar uma explicação. Seria tão bom e tão simples se eu pudesse dizer apenas: “É porque ele não gosta das suas sardas”. Você ia ficar triste, mas ia entender. Ele não gosta de sardas e você tem sardas. Não dá pra forçar a barra nesse caso. Um dia você ia conhecer um cara que amasse sardas ou que simplesmente não se importasse com isso e ia ser feliz à beça. E fim. Mas como o amor não é uma ciência exata e o tal do cara não consegue te explicar de forma racional o porquê dele não gostar de você, sempre fica aquela sensação que dá pra reverter esse processo. Que existe alguma coisa, uma coisa que beira o milagre, que você possa fazer para ele gostar de você. É uma jogada de cabelo no ângulo certo e pimba! Ele percebe o qual legal você é e não pode mais viver sem sua presença. Mas esse tipo de coisa não existe.
Você mergulha nos livros de auto-ajuda do tipo “conquiste esse cara em cinco passos”, lê furiosamente qualquer revista que prometa te ensinar como deixar o tal rapaz caidinho por você. Faz oferenda, mergulha o nome dele no mel, rouba cueca, muda o corte de cabelo, muda a foto de perfil no facebook, trata o cara super bem, trata o cara super mal. Os passo a passo são infinitos, complexos e absolutamente angustiantes. Mas amor não é receita de bolo, não é por falta de fermento que esse relacionamento não se desenvolve.
Nessas horas sempre tem aquela “amigona” com uma história na manga de um beltrano que não queria nada com a fulana, aí um dia, o sol bateu no rosto dela de um jeito diferente e ele percebeu que aquela indiferença era amor. Pode ser verdade, pode ser exagero, mas isso não vai acontecer com você.
Eu sei que parece loucura. Você gosta tanto dele que não é possível que ele nunca venha a gostar de você. Talvez, no seu desespero, você até tenha um momento meio alucinado e acredite que o seu amor seria suficiente para os dois. Mas amor em uma via de mão única não é amor, é devoção.
Agora você vai se irritar comigo. Por que eu te disse isso? Por que eu enfiei o dedo tão fundo na sua ferida, esfreguei sua cara no asfalto, por que eu te dei esse tapa na cara se não tenho nenhuma solução para te apresentar? Porque eu quero que você seja feliz. Você pode não ter essa coisa X que faria o cara ficar de joelhos com um anel nas mãos, mas você é legal demais, divertida demais, boa demais para viver em cima do muro que você mesma construiu. Está na hora de descer e deixar essa história do outro lado. Vem comigo, que eu prometo que aqui embaixo a vida está incrível.