Ela era uma mulher incrível. Ativa, jovem e cheia de personalidade. Tinha lindos cachos ruivos caindo sorrateiros no rosto bonito, uma risada gostosa e um contagiante amor pela vida. Vestia-se de autossuficiência e brindava à vida com um sorriso largo nos lábios.
Tornou-se cabisbaixa como num passe de mágica. Os porres, antes alegres, terminavam em choradeiras copiosas em um banheiro de boteco qualquer, as manhãs felizes de inspiração para um novo dia viraram o martírio de quem se arrasta pela rotina. Era uma outra mulher.
O que estaria acontecendo com a minha melhor amiga?
Entendi logo, quando, soluçando, ela proferiu a frase que funcionou como um tiro de desânimo e lamento: “Eu queria alguém pra dividir a minha vida!”
Nada de errado em querer alguém pra dividir a vida. O amor é uma glória, um presente, uma dádiva… Mas não é uma necessidade. E é isso que a nossa busca insana por um par de pés sob o edredom não compreende.
Para pessoas completas, buscar alguém que as transborde é natural: como uma cereja no bolo de suas vidas felizes. E mesmo que saibamos que ficamos bem sozinhos, uma companhia vai bem.
Acontece que tornar essa busca o centro de nossas vidas é uma armadilha invisível. O amor nem sempre corresponde às nossas projeções: a pessoa com quem sonhamos pode não aparecer em nossas vidas no exato momento em que queremos encontrá-la. Essa pessoa, pode, aliás, sequer existir. Transformamos, então, o bônus excepcional que é encontrar o amor em uma espera inútil e decepcionante. O amor visita a quem se distrai. E, se nos recusamos a olhar primeiro para as outras tantas coisas maravilhosas que a vida pode nos proporcionar e voltamos os nossos olhos para essa busca incompreensível, ela passa a ser um fardo terrível que nos faz chorar copiosamente em banheiros de boteco.
A vida é sobre compreender que o amor chega quando a gente menos espera – e que a gente não precisa necessariamente esperar. Que é mais importante construir nossos sonhos, viver em nome daquilo que nos faz vibrar, aquilo que nos realiza intimamente, que faz com que a nossa vida faça tanto sentido a ponto de enxergarmos que encontrar um par não é a coisa mais importante do mundo.
Não é que o amor não seja importante. Só precisamos compreender, de uma vez por todas, que somos protagonistas de nossas próprias vidas: encontrar um amor é coadjuvante.