Uma amiga comentava na mesa do japonês que tava pensando em se separar. O motivo que assombrava a decisão era mais clássico do que o resto de nós imaginava: as coisas não são as mesmas.
Acho que a maioria de nós tem uma ideia muito errada da busca por amor e do que é um relacionamento. Vivo dizendo que amor não é a base de tudo, e que a gente percebe isso quando constrói um relacionamento baseado em muitas vertentes. Se ela se incomoda porque hoje já não existe toda aquela paixão de segunda à segunda em horário comercial e fora dele, ela que pule fora. Tem todo o direito de ser feliz da forma como achar melhor. Mas eu diria que as coisas não são bem por aí.
Num relacionamento, nos apaixonamos em momentos pouco programados, não vivemos sempre a euforia do início. Redescobrimos coisas no outro que nos causam orgulho e espanto, coisas que fazem com que tenhamos certeza da escolha feita. Entendemos que brigas não duram mais dias e que não existe mais espaço pra mágoa infantil. Resumimos desentendimentos por conta da nossa prática em ler o outro, em completar frases, em perceber o que houve de errado. Premeditamos comportamentos e, assim, sabemos como fazer surpresas e como evitar a fadiga.
Deixamos o encantamento e a atração pela beleza inicial de lado. Rugas, marcas de sol, sinais escondidos ganham charme. Viajamos de uma nova maneira pelo corpo de quem se ama. Percebemos pontos de fusão que chamamos de portos seguros, aquelas situações em que os dois se sentem otimamente bem na companhia do outro. Celebramos uma vida nova em que os personagens secundários já fazem parte da nossa história faz tempo. Compartilhamos do início ao fim do dia.
Pode ser que o sexo não tenha a mesma frequência que antes, mas continua tendo aquele carinho que faz alguma parte do corpo arrepiar. Pode ser que haja crianças ou contas demais pra cuidar, mas você sabe que esses obstáculos não são nada perto do que uma vida a dois te deu de presente. Pode ser que não seja mais puro fogo, pura descoberta, puro desejo como era no começo, mas essa não é a evolução natural das coisas? Aquela coisa de ir liberando as borboletas do estômago e ser feliz assistindo o vôo delas, aquela maturidade que reconhece quanto o outro faz bem apesar de tudo.
O problema não é perceber que as coisas não são como antes. É preferir de todas as formas e modos o passado sem se dar conta de como o presente tem sido maravilhoso, por mais diferente que ambos sejam.