O Tinder é mesmo tudo aquilo o que te disseram que era – e a essa altura você já deve saber.
Um cardápio humano, dizem alguns. Uma ferramenta útil, dizem outros – e as duas definições são tão corretas quanto observáveis.
Em tempos de paixões fast-food, é claro que um aplicativo como esse (e tantos outros no mesmo formato que já se popularizaram) pode ser divertido, mas a ideia de estar em um aplicativo com a finalidade de encontrar alguém – seja para sexo casual, histórias de amor (há quem diga!) ou amizade – me broxa.
Não por puritanismo, garanto. É o que os bons encontros são naturais, instintivos, despretenciosos e tudo que foge disso me parece a mais odiosa forçação de barra.
Mas é claro que eu estive lá. Passava, às gargalhadas, as fotos dos meus possíveis flertes: “O que esse cara pensa que está fazendo com essa descrição tosca?” “Bolsomito, deus me livre!” “Foto sem camisa no espelho, sai daqui” “Parece legal, mas muito novinho”
“OPA, esse é o meu número”. Match! Fui dar um oi e ver como afinal aquilo funcionava. Será que as pessoas já chegam marcando encontros e fazendo jus à praticidade disso aqui? – pensei.
– Oi.
– Oi. Vi que você é escritora e curte arte. O que uma mulher tão culta procura no tinder?
Depois de me fazer querer vomitar, essa pergunta me rendeu uma reflexão profunda, embora talvez inútil: porque, afinal, mulheres ditas “cultas” não podem buscar sexo casual?
A ideia de que mulheres inteligentes precisam necessariamente ser puritanas, sérias e contidas me parece estúpida porque a inteligência traz de bônus a liberdade.
Mais do que incômodo, essa ideia me causa a mais humilde curiosidade. Porque a inteligência deve necessariamente estar ligada à ideia de moralidade? Porque não podemos ler Nietzsche e depois rebolar a noite inteira numa balada? Porque não podemos ouvir Chico Buarque e depois dar uma passadinha no Tinder pra encontrar quem quer que seja para uma transa despretenciosa?
Tolice, eu concluo. Essa ideia está enraizada na máxima de que mulheres inteligentes são necessariamente moralistas, quando, em pleno Século XXI, qualquer moralidade que nos tire o direito de fazermos exatamente o que queremos fazer é um sinal inconteste de burrice.
Uma mulher pode ser inteligente e, ao mesmo tempo, bonita e vaidosa. Pode ouvir Mozart e fazer um gang-bang no mesmo dia. Pode ler poesia barroca e voltar pra casa pensando no quanto adoraria simplesmente trepar – sim, nós podemos querer simplesmente trepar (e, a título de curiosidade, foi isso o que eu respondi ao meu match moralista).
Aliás, convenhamos: uma mulher pode absolutamente qualquer coisa.