• Estou sozinha e vou bem, obrigada
  • Estou sozinha e vou bem, obrigada


    Parece que foi ontem que você cantou me olhando nos olhos “you never gonna be alone”, com a voz enrouquecida e em uma música que eu amava. A verdade, porém, é que alguns anos já passaram e olha que engraçado o destino, tudo mudou e eu vou dormir sozinha esta noite. Novamente. Tenho estado sem você já há algum tempo e, cara, eu to bem demais.

    Mas voltando a noite da sua apresentação, lembro que havíamos brigado feio algumas semanas antes, por conta de mentiras, da sua inconstância sentimental e por mais dolorido que tenha sido na época, por outra mulher. Discutimos, eu jurei para mim que te deixaria, que iria dar o fora desse relacionamento e te largar comendo poeira na estrada. Mas, você tinha me cativado e sabia disso, conhecia meus limites e minha mania de enxergar flores à beira do abismo, bem demais. Acabei cedendo e reatando o que já não tinha jeito.

    Estávamos vivendo nosso pós guerra, cheio de transas apaixonadas e promessas de recomeço. Naquela noite você disse que cantaria para mim. Como toda mulher faz, me maquiei, perfumei e tratei de ficar linda para assisti-lo, eu que sempre sou prática para me arrumar, despendi horas do meu dia para estar pronta à noite. O curioso, que lá no fundo me incomodava, é que toda essa vaidade exacerbada não foi por mim, tampouco para você… Mas porque ela estaria lá, algumas fileiras à frente da minha cadeira o pivô, como chamamos, da ultima briga.

    Você subiu no palco, eu coloquei meu melhor sorriso no rosto e apesar do turbilhão interno, estava mais calma que água de piscina por fora. Colei os olhos em você e aguardei os primeiros acordes. A música começou e não me fez o menor sentido, apesar de meus lábios terem dito o contrário depois. A situação toda era ridícula e eu sabia.

    Estava com raiva de você, estava decepcionada e me sentindo vazia, insossa e sem graça. O problema é que eu tentara assegurar minha auto estima, todo o tempo do show, na fineza do meu salto agulha, nas notas do meu perfume francês e no balançar do cabelo. Sim, eu sabia que isso estava bastante equivocado, a segurança precisa vir de dentro para fora e eu vinha tentando exatamente o contrário.

    Não sei em que ponto da nossa estrada isso aconteceu, mas apesar da promessa cantada, eu fiquei sozinha. Ainda não tenho certeza se foi antes ou depois do adeus. Você caprichou e nossa história teve um desfecho digno das telas de cinema, com todos os dramas que isso requer. Hoje estou aqui, sentada na poltrona de antiquário da minha mãe, voltei a morar com ela, depois de ter saído de casa, de ter tido meu canto e de ter tido nosso canto. Eu estou aqui, ouvindo a mesma canção, o mesmo pop rock da época e me sentindo tão antiquada quanto a poltrona com almofadas em animal print.

    Sim, estou sozinha… Você me deixou sozinha, mas desta vez foi eu quem impus a distância física. Antes a solidão vinha em sua companhia, vinha nos dias ocos em que tentava me preencher de você. Erro meu, como posso me esvaziar de mim quando sempre fui transbordante? Cara, porque será que demorei tanto para entender isso. Você me dava azia no coração, com você ele vivia queimando e o que parecia paixão revelou-se um incômodo.

    Terminamos, criei coragem e fiz minhas malas para decolar da sua rotina imatura e egoísta. Hoje estou sozinha e estou completa. De verdade. Este texto não é para esfregar minha felicidade na cara de ninguém, acredite, nem para me vitimizar diante da vida. Mas precisava desengasgar, precisava te dizer que naquela noite você estragou diante dos meus olhos uma grande canção. Não no quesito musical, sua interpretação como sempre, foi perfeita. Mas suas promessas não alcançaram sequer a máscara à prova d’água dos meus cílios e não era essa a proposta do compositor, tenha certeza.

    loui


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