Em tempos de discussões cada vez mais acaloradas nas redes sociais, uma percepção fica cada vez mais clara: os homens têm uma necessidade tremenda de afirmar (e autoafirmar) o que se chama de masculinidade e virilidade.
Qualquer coisa é um brusco atentado à imagem que querem passar. Não se pode usar a cor rosa, porque ela é social e historicamente designada às mulheres. Reafirmam os valores padrões em que devemos utilizar roupas de homens e roupas de mulheres. Imaginem o desespero que causa a ideia da moda sem gêneros? Imaginem a afronta que deve ser sentir sua masculinidade se esvaindo pela possibilidade de usar uma saia ou uma calça skinny?
Não se pode ter um cachorro de porte pequeno. O ideal seria optar por cães imponentes, agressivos, fortes, que precisem de focinheiras para serem carregados nas ruas. Eles complementam a imagem do dono. E qualquer outro homem que vá contra isso ganha apelidos nada amistosos e cheios de sarro dos coleguinhas machões.
Não se pode aderir a cuidados estéticos. “Coisa de bicha”, eles clamam. Porque cuidados estéticos, higiênicos ou qualquer coisa que fira a ideia do homem cheio de barba, pelos e ossos bem marcados na face e no corpo é agressivo. Agride a masculinidade deles.
Masculinidade é tão frágil que qualquer coisinha que saia um pouco da curva incomoda. Incomoda que dois homens possam andar e mãos dadas e trocar beijos por perto. Incomoda que duas mulheres que não estejam dentro do padrão imposto de feminilidade e beleza sejam vistas juntas. Incomoda que uma mulher diga não a ele ou que reclame e se imponha pelos direitos que lhe são negados. Porque não é possível para essa figura que sua masculinidade não seja o centro do mundo. Não é possível que ele, um semi-deus dos dias atuais, não seja desejado, não dite moda, não seja o padrão que o mundo inteira deseja seguir.
É fácil identificar essa fragilidade líquida da masculinidade. Por mais que seja fácil e óbvio de entender que existem pessoas diferentes dele, ele não quer abrir mãos dos seus privilégios. Para esse tipo de ser másculo, deixar – sim, porque ele é quem permite as coisas – que dois fiquem juntos é se sujeitar a mesma coisa. É abrir mão da sua masculinidade. Para esse tipo de ser másculo, limitar os trajes de sua parceira ou ser desprezado é falta de rola – porque é claro que tudo se resume a rola no mundo, não é mesmo? Para esse tipo de ser másculo, é importante que se mantenham os padrões sociais como eles devem ser, caso contrário, ele não saberá existir. Não foi criado para se adaptar, foi criado apenas para ser essa figura que aparenta ser.
Em tempos como os de hoje, vemos a masculinidade cada vez mais ameaçada por uma coisa que até então parecia ser impossível de existir: a liberdade de ser do jeito que se é, que se quer, que não precisa mais de regras de comportamento para existir.