E desta vez, eu abro o texto com um mea-culpa, seria hipócrita não fazê-lo. Já vivi uma relação sufocante e também fui responsável por ela. No auge da minha dúvida, cerquei quem eu amava com todas as regras e neuras possíveis, durante um longo, doentio e catastrófico tempo, tentei manter o controle da situação, sem notar que já o tinha perdido.
Demorei a enxergar o péssimo caminho que estava tomando e o quanto estava, eu mesma, piorando as coisas. Mais tarde minhas suspeitas vieram a se confirmar – de fato o cara não era lá muito digno de confiança. Mas, até hoje não sei o quanto minha invasão constante e sofrida na privacidade dele, teria ajudado a melhorar as coisas, pelo contrário, acredito que apenas criei mais motivos para discussões.
De toda forma, me arrependo, de cada embate que tivemos, de cada regra que tentei impor e de cada ato invasivo que cometi. Eu realmente me sentia péssima ao agir assim, mas não me sentia tranquila também e isso me corroía por dentro. Eu odiava o papel que vinha desempenhando, mas não conseguia sair dele. O fato é que, sob minha supervisão ou não (me sinto uma tutora de reformatório usando essa palavra, mas é a que melhor convém), ele fazia as escolhas dele, com base no próprio caráter. Porque é isso que realmente guia as pessoas e não há como questionar. Nem com toda a “DR” possível. Como lidar então?
Primeiro, não confiar no seu parceiro é a receita certa para desastre. Se a pessoa com quem você convive não faz por merecer sua confiança dá logo o fora daí. Ninguém merece passar a vida tendo que investigar cada passo do outro para ter certeza de como ele se porta. Segundo, deixe de neura. Simples assim. Quem quer trair, trai no banheiro do shopping, no futebol, no balé, no estacionamento da faculdade, na festa de um ano do priminho e em qualquer canto que permita algum sexo.
Portanto, privar seu parceiro ou parceira dos amigos e hobbies não vai alterar em nada o caráter e o comprometimento dele, ou dela, com você. Deixa a liberdade de cada consciência guiar esse relacionamento. Coloque suas ideias na mesa, converse sobre, mas não seja um pé no saco. Se não estiver fluindo é porque algo está errado. Sintonia de pensamento é sim, bastante necessária! Afinal, amores que te cercam e impossibilitam escolhas não são saudáveis. Dar ao outro liberdade é crucial para o bem de qualquer relacionamento e todo mundo já sabe isso decorado.
Atualmente as redes sociais têm nos colocado à prova todos os dias e vigiar pela tela a vida do parceiro parece parte do pacote “em um relacionamento sério”. E nem precisa ter vocação alguma para o FBI, basta alguns cliques e lá está você, stalkeando loucamente todas as contas possíveis do ser amado, achando tudo muito suspeito, até aquele gif inocente de gatinho enviado pela tia. O mundo virtual te permite alcançar lugares que o físico não alcança, isto é claro. São homens e mulheres desfilando pela timeline todo o tempo, é como ter uma orla de Ipanema dentro de casa.
Você pode pirar com isso e atacar as mídias sociais todas, criar perfis de casal, trocar senhas ou, aceitar que ambos estão em um compromisso e que, independente dos seus grilos, só quem pode destruir isso são vocês mesmos. Insegurança não é crime, embora em alguns casos torne-se um transtorno e seja necessário recorrer à ajuda profissional, ela faz parte das nossas vidas e temos que lidar com ela. Do contrário perde-se o prazer de um relacionamento leve, arejado e com parceria. Não queira para si a posição sofrida de carregar o amor nas costas, encaminhando cada novo passo do outro. Liberte-se e acredite, quem quer estar ao seu lado, vai estar, completo e inteiro. Quem não quer, já devia ter ido embora faz tempo.